Eduardo Bolsonaro diversifica ação e atua como chanceler paralelo

  • Por Jovem Pan
  • 28/04/2019 16h18
Alex Ferreira/Agência Câmara A função de Eduardo não se limita a de um representante do pai no exterior

Articulador de viagens presidenciais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) virou uma espécie de chanceler paralelo. O filho  do presidente Jair Bolsonaro faz visitas precursoras a países alinhados e divide informalmente com o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a guinada da política externa para o eixo de nações governadas pela direita.

Nas últimas semanas, ele visitou expoentes do conservadorismo europeu, como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e o vice-primeiro ministro da Itália, Matteo Salvini.

Hoje, Eduardo tem uma rotina intensa de encontros com embaixadores estrangeiros no Brasil, mas garante que o jogo é combinado com Araújo, embora cada um defina livremente sua agenda. “É um papel complementar. Quem toma a decisão é ele”, disse o deputado ao jornal O Estado de S. Paulo. “Eu sou próximo do embaixador. Se tem alguma coisa referente ao Executivo, passo para ele”, emendou.

A função do deputado, porém, não se limita a de um representante do pai no exterior. Ele preside as comissões de Relações Exteriores e também a de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso. Esta última fiscaliza as atividades de inteligência e contrainteligência desenvolvidas no Brasil e no exterior. É a única comissão do Legislativo a ter reuniões secretas, por abordar questões que podem colocar em risco a soberania nacional.

Convites de governos estrangeiros não param de chegar ao gabinete da Comissão de Relações Exteriores. Lá, simpatizantes bolsonaristas dividem espaço com diplomatas em busca de interlocução com o Planalto, por meio de Eduardo.

Diante de incertezas sobre os ganhos comerciais com países como Hungria, cuja balança comercial é negativa para o Brasil, Eduardo atende parceiros tradicionais. Nos próximos dias, por exemplo, receberá embaixadores de países árabes preocupados com a aproximação de Bolsonaro com Israel. Na semana passada, ele se reuniu com os embaixadores da Argentina, do Peru e da China.

Ideologia

No encontro com o chinês Yang Wamming, o deputado amenizou o discurso ideológica que tem dado o tom do governo. “Citei a máxima do imperador Vespasiano: ‘O dinheiro não tem cheiro’. Deixamos claro que questões ideológicas ficam à parte. Falei para eles que, se porventura houver alguma notícia veiculada dando como entendido que Jair Bolsonaro tem restrição à China, não seria verdadeiro”, disse. “O tratamento que vamos dar para a China é o mesmo dado a outros países.”

As palavras destoam do tom expressado por ele ao excursionar na Europa, onde apregoou uma “luta contra o socialismo”. O deputado diz ter preocupação em mostrar uma boa imagem do País e do governo do pai. “Fora do Brasil, a gente é brasileiro. Qualquer lugar que você vai, mijou, respingou na privada, limpa. É a imagem do Brasil que está lá fora.”

Eduardo admite que ganhou destaque na política externa, assunto que não dominava, por ser filho de Bolsonaro. “Como filho do presidente, o holofote fica em cima. Para o bem e para o mal.”

O próximo destino deve ser os EUA, onde o pai recebe homenagem em maio. Confirmada, a viagem será a segunda de Bolsonaro ao país que virou o foco da política externa bolsonarista. Donald Trump já classificou o trabalho de Eduardo como “fantástico”.

*Com Estadão Conteúdo

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