Em 1992, Brasil acompanhava votação de impeachment de Collor na Câmara; relembre

  • Por Jovem Pan
  • 16/04/2016 14h02
Wikimedia Commons O presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro

O Brasil estava paralisado no dia 29 de setembro de 1992 para acompanhar a votação do impeachment contra o presidente da República. Pela primeira vez, um chefe da nação sofreria o impedimento pela Câmara dos Deputados.

Fernando Collor de Mello era alvo de denúncias de corrupção, em um escândalo que estarreceu o País.

A Jovem Pan resgata os momentos da votação histórica de 29 de setembro de 92- com sonoplastia de Reginaldo Lopes, a reportagem é de Thiago Uberreich. Confira a seguir:

29 de setembro de 1992, uma data histórica e simbólica para o Brasil. O sol aparecia no Planalto Central: começava mais um dia seco no coração do poder – seria o dia do sim.

“Meu voto é pela dignidade, por aquilo que Minas Gerais representa, é sim!”, bradou o então Paulo Romano (PFL-MG), que foi o autor do voto decisivo para o impeachment de Collor.

A Câmara dos Deputados aprovava pela primeira vez o impeachment de um presidente e autorizava o julgamento de Fernando Collor pelo Senado.

A cronologia do impedimento começou em primeiro de setembro de 1992. “Neste momento levantaram o meu nome para levar o pedido de impeachment. E a Ordem dos Advogados se associou ao meu trabalho”, disse Barbosa Lima Sobrinho.

(Barbosa Lima Sobrinho entrega pedido de impeachment à Câmara dos Deputados junto a Marcelo Lavènere. Fonte: Reprodução/OAB-MS)

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Barbosa Lima Sobrinho levou à Câmara o pedido de impeachment, também proposto pelo presidnete da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcelo Lavènere.

Envolvido em denúncias de corrupção, Fernando Collor de Mello apelou ao Supremo Tribunal Federal.

Em 23 de setembro, o STF entendeu, no entanto, que o prazo de defesa tinha se esgotado e determinou a votação aberta pelos deputados.

“A rádio Jovem Pan transmitindo ao vivo do Supremo Tribunal Federal o julgamento do mandado de segurança do presidnete Collor”, dizia o repórter Jovem Pan em Brasília, José Maria Trindade.

A República amanheceu na terça-feira, 29 de setembro de 92, confiante na aprovação do impeachment pela Câmara. A votação seguiria a ordem alfabética, mas o primeiro a se pronunciar foi o deputado e economista Roberto Campos.

(Economista Roberto Campos foi o primeiro a votar. Fonte: Reprodução)

O parlamentar, na época com 75 anos, estava na cadeira de rodas e deixou o hospital para dizer “sim”. “Sim pelo parecer”, disse ao ser seguido por aplausos.

Em pouco mais de duas horas, os deputados se revezariam nos microfones da Câmara.

Coube ao deputado Paulo Romano, do PFL de Minas Gerais, proferir o voto decisivo. “Pela ética, mas em nome dessa Casa e do povo brasileiro, saibamos ser coerentes. Meu voto é pela dignidade, por aquilo que Minas Gerais representa, é sim!”, discursou. Confira no vídeo abaixo:

A Câmara dos Deputados aprovou o impeachment por 441 votos a favor, 38 contra e uma abstenção.

O presidente Fernando Collor de Mello tentava amenizar o resultado massacrante: “querem fazer deste julgamento, um julgamento sumário. Querem reeditar um tribunal de exceção”.

Já o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, falava em missão cumprida e passava a bola para os senadores. “A Câmara cumpriu o seu dever e encerrou a crise. Nós encerramos amanhã pela manhã levando ao senador a mensagem que comunica ao Senado a autorização para que se processe e julgue o presidente por crime de responsabilidade”.

(Câmara dos Deputados aprova pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello. Fonte: Agência Câmara)

O impeachment chegaria ao Senado no dia 30 de setembro e o processo se desenrolaria de forma rápida.

“Quatro horas e trinta e oito minutos aqui em Brasília. Estamos falando do plenário do Senado Federal onde está sendo julgado o relatório do senador Antônio Mariz favorável ao impeachment do presidente afastado Fernando Collor”, dizia José Maria Trindade durante a cobertura da Jovem Pan.

José Maria Trindade já empunhava o microfone da Jovem Pan em 1992 e se referia a Fernando Collor de Mello como presidente afastado.

De fato, os senadores aprovariam a substituição pelo vice Itamar Franco, pelo menos até o fim do processo: “estamos pedindo a Deus que nos dê, neste momento do exercício da Presidência da República, bondade, inteligência e humildade. É importante destacar essa normalidade democrática”.

O mineiro Itamar Franco vinha presidindo o país, de forma interina, quando, em 29 de dezembro, uma carta chegou ao Senado. “Levo ao conhecimento de Vossa Excelência que nesta data, e por este instrumento, renuncio ao mandato de presidente da República para o qual fui eleito nos pleitos de 15 de novembro e 17 de dezembro de 1989”, dizia carta de Collor.

Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo antes para tentar preservar os direitos políticos.

Os senadores, no entanto, condenariam o ex-presidente, por 76 a 3, e ele seria proibido de disputar cargos públicos por oito anos. De nada adiantariam as lamúrias.

“Não posso permitir que a tentativa de deposição de um presidente da República, eleito pela maioria dos brasileiros, se assemelhe a um processo de rito mais sumário dop que o despejo de um inquilino incômodo”

A República virava uma página, sem golpes, sem traumas e seguiria em frente.

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