Em 2019, cinco crianças foram vítimas de bala perdida no RJ, diz ONG
Só no ano de 2019, cinco crianças foram mortas por bala perdida no Rio de Janeiro. A última foi na noite desta sexta-feira (21) e chocou o País. Ágatha Félix, de 8 anos, foi atingida nas costas por um tiro de fuzil, na Fazendinha, no Complexo do Alemão, quando estava dentro de uma kombi acompanhada da avó.
As informações são da ONG Rio de Paz, que combate a violência por meio da defesa dos direitos humanos no Brasil. Segundo dados da organização, desde 2007, 57 crianças morreram atingidas por balas perdidas. Em 2007, foram três; em 2008, duas; 2010, uma; 2011, duas; 2012, duas; 2013, três; 2014, duas; 2015, sete; 2016, 10; 2017, 10 e 2018, 10.
Ou seja, de 2015 a 2019, o número de mortes foi duas vezes maior do que nos oito anos anteriores.
Cinco mortes em 2019
Em fevereiro, Jenifer Cilene Gomes, de 11 anos, foi atingida numa troca de tiros, no bairro de Triagem, Zona Norte do Rio, e socorrida por moradores da região. Ela chegou a ser levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu, e morreu antes de dar entrada na unidade. De acordo com a mãe da menina, Katia Cilene, antes de morrer, Jenifer falou: “mãe, levei um tiro, olha aqui”. Katia afirmou que “tem certeza que a filha foi morta por policiais”.
Em março, Kauan Peixoto, de 12 anos, morreu após ser baleado durante operação da Polícia Militar na comunidade da Chatuba, em Mesquita, na Baixada. Segundo os familiares, ele havia saído para comprar um lanche. A família de Kauan disse que ele chegou a “ser algemado e colocado em uma viatura”.
Kauan Rosário, de 11 anos, foi atingido no dia 10 de maio por um tiro durante confronto entre policiais militares e bandidos em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Morreu após agonizar uma semana no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo.
No início do mês de setembro, Kauê Ribeiro dos Santos, 12 anos, morreu vítima de bala perdida. Conforme relatos nas redes sociais, havia um confronto entre policiais militares e traficantes do Comando Vermelho entre a ruas Moraes Pinheiro e Pedra Rasa, em Ricardo de Albuquerque, no Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio.
Um familiar da criança, entretanto, contestou a versão, e declarou que não havia tiroteio quando Kauê foi atingido. De acordo com ele, os policiais atiraram no garoto e chegaram a colocar o seu corpo dentro do “caveirão”.
A última morte, de Ágatha Félix, de 8 anos, ocorreu na noite desta sexta. Segundo testemunhas, Ágatha estava dentro de uma kombi na Fazendinha, no Complexo do Alemão, acompanhada da avó, quando foi atingida com um tiro nas costas. A menina foi levada às pressas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu ao ferimento.
De acordo com relatos de moradores pelas redes sociais, o tiro teria sido disparado por militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que atiraram contra ocupantes de uma motocicleta em fuga.
Em nota, a Polícia Militar informou que, por volta das 22h desta sexta, (20), equipes policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Fazendinha, foram atacadas de várias localidades da comunidade de forma simultânea. Os policiais revidaram à agressão.
Confira a publicação:
ONG pede ‘fim de carnificina’
O presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirmou, em nota, que “a sociedade precisa dar um basta a essa carnificina”. Para ele, “essas mortes não podem ser tratadas como mero efeito colateral do combate ao crime”.
Costa disse que a organização luta pela redução dos homicídios no Rio e no Brasil desde 2007 e “levanta um clamor que detenha essa política de confronto do governo do estado que, sob o pretexto de enfrentar o crime organizado, tem tirado a vida de inocentes”.
“O que o Rio de Paz tem defendido e o governo precisa atentar é que o combate ao crime depende de um conjunto de ações e não do confronto armado sem qualquer critério. O uso da força pelo estado depende também de uma política pública de policiamento que contemple principalmente os cidadãos de bem, com o emprego de mais operações de inteligência do que operações de guerra não convencional”, finaliza a nota.
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