Ex-tesoureiro do PT diz à PF que madrinha da bateria era “cabo eleitoral”

  • Por Estadão Conteúdo
  • 06/07/2016 11h56
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Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira - Ag. Câmara

O ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, preso na Operação Abismo, declarou à Polícia Federal nesta terça-feira, 5, que não recebeu valores ilícitos das obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Ele disse que repassou dinheiro à madrinha da bateria da Escola de Samba Estado Maior da Restinga, em Porto Alegre, porque ela e outros integrantes da agremiação trabalharam como seus cabos eleitorais em 2010.

Paulo Ferreira foi preso há duas semanas, alvo de outra missão da PF, a Operação Custo Brasil – que investiga suposto desvio, entre 2010 e 2015, de R$ 100 milhões de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, gestão Paulo Bernardo, também investigado no caso.

O depoimento do ex-tesoureiro foi tomado pela PF no inquérito da Operação Abismo, deflagrada na segunda-feira, 4. A ação – que investiga fraude na licitação de quase R$ 1 bilhão da construção do Cenpes, em 2007 – é a 31.ª fase da Lava Jato. Paulo Ferreira é um dos investigados.

Um delator da Abismo, o advogado Alexandre Romano, conhecido como Chambinho, entregou à Procuradoria da República recibos de depósitos, a pedido do ex-tesoureiro do PT, para Viviane Rodrigues. Entre 2010 e 2012, madrinha da bateria teria recebido R$ 61,7 mil em 18 parcelas.

Os investigadores suspeitam que Viviane recebeu um “mensalinho” do ex-tesoureiro do PT com dinheiro de propina da fraude na licitação do Centro de Pesquisas da Petrobras. A Operação Abismo contabiliza propina global de R$ 39 milhões no negócio.

“Os documentos apresentados por Alexandre Romano comprovam a realização de diversos depósitos a Viviane da Silva Rodrigues, que, segundo o colaborador, seria amiga de Paulo Ferreira e seu contato com blocos carnavalescos”, diz a Procuradoria da República.

Em seu depoimento à PF nesta terça, Paulo Ferreira disse que foi deputado federal e depois se candidatou à reeleição e que, na campanha, “algumas empresas se dispuseram a colaborar”.

Segundo ele, Chambinho “se aproximou” dele e da direção do PT. O ex-tesoureiro descreve o delator como “um sujeito muito cativante, me fez padrinho de casamento dele”.

Ferreira contou que Chambinho lhe disse que iria ajuda-lo na campanha. “Tenho uma grande experiência em finanças, me dá o nome de quem quer colaborar com você que eu cuido”, teria dito o advogado, segundo o ex-tesoureiro.

“Passei o nome de umas quatro empresas, mas jamais poderia imaginar que alguma delas tivesse algo com a Petrobras ou na obra civil do Cenpes”, afirmou Ferreira. Segundo ele, essas empresas “fizeram algumas contribuições”.

Ao ser questionado sobre os repasses à madrinha da bateria da Estado Maior da Restinga, Paulo Ferreira alegou ter feito pagamentos “a fornecedores” e a “cabos eleitorais”. Segundo ele, a escola de samba apoiou sua candidatura. A PF quis saber sobre a sequência de depósitos em favor de Viviane. “Eram todos cabos eleitorais”, afirmou.

Esses cabos eleitorais, segundo Ferreira, faziam serviços de colocação de faixas, cavaletes e distribuição de santinhos. O maior valor que Chambinho recebeu dos contribuintes da campanha de Paulo Ferreira nunca foi superior a R$ 30 mil. A seus fornecedores, o ex-tesoureiro disse que repassava, em média, R$ 3 mil.

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