Fome atinge 19 milhões no Brasil: ‘Vivo das doações que deixam na minha porta’, diz dona de casa

À Jovem Pan, Tatiana Silveira afirmou que seus serviços como faxineira foram interrompidos com a pandemia; segundo estudo, insegurança alimentar chegou a 55,2% dos domicílios no final de 2020

  • Por Giullia Chechia Mazza
  • 05/04/2021 17h22 - Atualizado em 05/04/2021 17h43
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ANDRÉ PERA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO Pessoa segura cesta básica Tatiana Silva conta com a ajuda de internautas nas redes sociais para alimentar seus cinco filhos

Através de postagens em grupos do Facebook, a dona de casa Tatiana Silva tem garantido o sustento de seus cinco filhos. “É humilhante demais precisar implorar algo para comer, isso não é uma lamentação. Estou pedindo porque realmente, até agora, não comemos nada hoje. Estamos em uma situação crítica e para quem não acredita, posso mostrar através de uma chamada de vídeo ou fotos. Sei, de coração, que ninguém é obrigado a ajudar, cada um tem suas necessidades. Mas olho para meus filhos e penso: ‘Meu Deus, me ajude a matar a fome deles’. Com a ajuda de R$ 2, eu já posso comprar três pães e dois ovos para garantir a janta. Estou sem chão”, registrou em uma publicação na rede social ainda nesta segunda-feira, 5, junto aos dados de sua conta bancária e um vídeo, em que mostra os armários com apenas dois sacos de farinha.

A jovem de 27 anos é só uma entre os 19 milhões de brasileiros que se depararam ou ainda enfrentam a fome durante a pandemia, segundo pesquisa conduzida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). O estudo lançado nesta segunda-feira, aponta que 55,2% dos domicílios brasileiros, cerca de 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020. Destes, 9% – ou 19 milhões de cidadãos, passaram fome. Os dados foram coletados entre os dias 5 e 25 de dezembro do último ano. À reportagem, Tatiana afirmou que a situação de sua família foi agravada pela chegada da Covid-19 no país.

“Por enquanto, estamos sobrevivendo com as doações das pessoas que deixam um pacote de arroz e feijão na minha porta. Antes da pandemia eu fazia faxina, mas desde então os serviços foram interrompidos. Eu morava com o meu marido na casa da minha avó, ajudava com o dinheiro do meu trabalho e ela recebia Bolsa Família. Em 2020, minha avó perdeu o auxílio do governo porque se aposentou. Há mais de um ano, me cadastrei para receber o benefício, mas até agora não liberaram. Além disso, precisei sair da casa da minha avó e estou morando sozinha com as crianças em uma kitnet porque me separei do marido que bebia e maltratava meus filhos. Morro de vergonha de pedir ajuda na internet, mas é o jeito”, disse a mãe de um recém-nascido e das crianças que têm 7 anos, 5 anos, 3 anos, 2 anos e 1 ano. De acordo com a pesquisa, os domicílios chefiados por mulheres foram os mais impactados pela fome no último ano. A maioria dos brasileiros que vivenciaram a insegurança alimentar severa são negros e pardos. As desigualdades também são percebidas entre as diferentes regiões do país, já que o Norte e o Nordeste apresentam, disparadamente, os maiores índices de fome durante a pandemia – chegando a 18,1% e 13,8%, superando os 9% referente a todo o território nacional.
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