“Furada de fila” de dois minutos atrasa sessão do Conselho de Ética em quase duas horas

Às 15h53, horário de Brasília, o presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), encerrou as inscrições para discussões antes que o assunto do dia começasse a ser tratado: a abertura ou não do processo de cassação contra o presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Às 15h57, finalmente, o advogado de Cunha, Marcelo Nobre, começou a fazer a defesa prévia do peemedebista. “Denúncia não prova nada”, começou dizendo Nobre, pedindo o imediato arquivamento do processo.

A sessão estava marcada para as 14h desta terça (1º). O presidente Araújo, porém, precipitou-se e abriu o sistema eletrônico da Câmara para os deputados presentes se inscreverem às 13h58.

O imbróglio

Após a inscrição de mais de dezenas de parlamentares presentes, tanto titulares quanto suplentes do Conselho, a reunião começou apenas às 14h47. Então, por mais de uma hora, o assunto foi praticamente o mesmo: a abertura antecipada no sistema eletrônico e uma suposta “furada de fila” do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que não teria respeitado uma fila previamente formada, entrou na sala onde ocorre a sessão e marcou presença às 13h59.

O deputado Sérgio Moraes (PDT-RS) irritou-se com a atitude e disse que Ônix estava “querendo dar uma de malandro, furando fila, bancando o esperto”. Outro parlamentar esbravejou: “Deputado ônix, não diminua sua biografia política ao furar fila”. Muitos alegaram que ali é um Conselho de Ética, e a ética deveria ser respeitada, inclusive na ordem da fila.

Ônix defendeu-se: “Eu poderia ter sido o décimo se as pessoas tivessem sido ágeis”. Ele disse que não sabia da fila e simplesmente entrou na sala da Câmara, onde “bateu o ponto”  antes de quase todos – a deputada Eliziane Gama (Rede-MA) foi mais rápida e marcou presença Às 13h58. Moraes irritou-se ainda mais com Ônix e acusou o democrata: “Vossa Excelência está faltando com a verdade. É um mentiroso de primeira linha”, apontou. “Não adianta falar de pé porque eu não tenho medo de ti. Eu falo sentado porque eu sou homem”.

José Carlos Araújo, presidente do Conselho, que controla a dala dos deputados, mantinha a calma e tentava mudar de assunto, mas ao mesmo tempo permitia a discussão sobre a furada de fila. Ele defendeu a posição de Ônix: “No momento em que abriu o sistema, no meu entender abriu pra todo mundo. Tanto pra quem tava na fila lá, tanto para quem estava sentado (no caso, Ônix)”. Ele também argumentou tecnicamente: “O sistema é burro. O sistema recebe informação”.

“Eu mandei abrir o painel. A partir desse horário, quem marcou marcou”, disse Araújo, tentando concluir o assunto.

O próprio Araújo, entretanto, reclamou a servidores da Câmara a respeito calor que fazia na sala de reunião lotada e de seu tamanho, uma vez que não pôde comportar devidamente sentados todos os parlamentares presentes. “O direito de reclamar é um direito que nós temos”, disse.

Questões de ordem com o deputado Manoel Junior (PMDB-PB), justamente sobre a ordem de inscrições, também tomou e tem tomado bom tempo da sessão.

Pulinho da Força (SDD-SP), aliado de Cunha, também reclamou de Araújo ter aberto a sessão 120 segundos antes e argumentou que Eliziane Gama tomou o lugar do deputado Bebeto ao marcar presença às 13h58. A discussão prolongava-se. 

Eduardo Cunha é acusado de ter mentido à CPI da Petrobras, da própria Câmara, em março ao dizer que não tinha contas no exterior. Depois, as investigações na Lava Jato descobriram contas abertas em seu nome na Suíça com dinheiro de origem suspeita. Ele foi alvo de denúncia ao Supremo Tribunal Federal.