Kombi em que Ágatha foi baleada levava outras duas crianças, diz motorista

Segundo ele, dois homens sem camisa passaram em uma moto e um dos policiais atirou, mas não havia conflito no local. O depoimento foi prestado no último sábado (21)

  • Por Jovem Pan
  • 23/09/2019 18h45
Ágatha Félix, de 8 anos. Vítima de bala perdida, ela levou um tiro nas costas na última sexta-feira (20), no Complexo do Alemão

Outras duas crianças estavam na Kombi em que Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta com um tiro de fuzil na última sexta-feira (20). Momentos antes de a menina ser baleada nas costas, elas desembarcaram acompanhadas de um casal. O tiro que atingiu Ágatha nas costas foi disparado enquanto a família abria o porta-malas do veículo para pegar suas bolsas.

Os detalhes foram dados pelo motorista da Kombi em depoimento de cerca de uma hora no último sábado, dia seguinte à tragédia, relata o advogado da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) Rodrigo Mondego, que acompanhou o testemunho na Delegacia de Homicídios do Rio.

O condutor da Kombi desceu para ajudar a família quando viu dois homens sem camisa passando numa moto. Nesse momento, ele teria visto um dos policiais presentes na ação atirando, mas, como não havia conflito, pensou que os tiros fossem para o alto. Ele chegou a acalmar pessoas que estavam perto do cruzamento onde a Kombi havia estacionado.

No depoimento à polícia civil, ele disse que não viu armas nas mãos dos dois rapazes na motocicleta e que, se eles fossem atingidos, seria uma execução, porque não havia confronto no momento dos disparos.

A versão oficial da Polícia Militar é de que Ágatha teria sido ferida numa troca de tiros entre policiais da UPP Fazendinha, no Complexo do Alemão, e criminosos da região. Dois dias após a morte de Ágatha, o governador do Estado, Wilson Witzel, convocou coletiva de imprensa para prestar esclarecimentos sobre o caso. Segundo ele, a morte da menina “não é motivo para contestar toda a política de segurança pública” da cidade e defendeu que a oposição não transforme o fato em “palanque eleitoral”.

Logo em seguida aos disparos, o motorista teria ouvido a mãe de Ágatha gritar e correu para ajudar. Os policiais ficaram sem reação e não prestaram socorro, de acordo com Mondego. As armas usadas na ação serão periciadas pela Polícia Civil.

Imediatamente após perceberem que a menina tinha sido atingida, o motorista saiu em disparada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima.

Foi lá que dois outros policiais, que nada tinham a ver com o caso, botaram a criança em uma viatura e, aflitos, a levaram para o Hospital Getúlio Vargas, onde Ágatha faleceu na madrugada de sábado (21).

Ainda de acordo com o depoimento do motorista, Ágatha deixou um saquinho de batatas fritas no veículo, que já foi periciado. Como o porta-malas estava aberto, a informação é que a bala passou entre as duas crianças e o casal direto pelo banco de trás, onde atingiu a menina nas costas.

O motorista disse ainda que trabalha na região há muito tempo e que não colocaria a vida dos passageiros em risco se houvesse algum sinal de perigo.

“O fato dele parar e desembarcar as pessoas é até prova de que não havia conflito. Ninguém para num lugar conflagrado tendo tiroteio”, disse Mondego. A OAB acompanha o inquérito para dar orientação jurídica à família e para garantir que as testemunhas não sofram ameaças.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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