Ministro da Comunicação de Dilma admite “cenário de dificuldades”, mas defende “governo exitoso”

  • Por Jovem Pan
  • 27/05/2015 11h17
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O ministro da Secom fez um balanço do governo Dilma no ano Reprodução Edinho Silva

O ministro da Secretaria da Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Edinho Silva, esteve nos estúdios da Jovem Pan e falou sobre as dificuldades do governo Dilma em comunicar e implementar seus programas de governo neste ano, especialmente o ajuste fiscal, que busca reequilibrar as contas do governo por meio de cortes de gastos públicos.

Há apenas 50 dias no cargo, Edinho Silva justificou as medidas de restrições de direitos trabalhistas, como o seguro-desemprego e pensões por morte, bem como o aumento da inflação nos últimos meses. O porta-voz não oficial do governo (uma vez que o cargo subordinado à Secom está vago desde a saída de Traumann em março) também reforçou o discurso de Dilma a respeito da corrupção – de que há autonomia nas investigações – e contra o “ódio e a intolerância” nas manifestações contrárias ao governo.

Dificuldades políticas e econômicas

“Um cenário de ajuste conômico, um cenário de recomposição da base, não é um cenário de facilidades, é um cenário de dificuldades”, confessou Edinho, aludindo à dificuldade do Planalto em dialogar com o Congresso, e aos cortes na economia. “Mas é um governo exitoso”, garantiu, em seguida, citando “crescimento e inclusão social” como conquistas do primeiro mandato de Dilma, de “um governo que tem o que mostrar, tem o que falar”.

Visto a dificuldade do governo em aprovar suas medidas provisórias no Legislativo, inclusive do ajuste fiscal, que devem ser votados até o final desta semana, o ministro assumiu que existe um “cenário de disputa política” e um ambiente “conturbado” na Câmada dos Deputados.

“Evidente que o processo em que a eleição tanto da Câmara, mais conturbado na Câmara, no Senado mais tranquila, mas também num cenário de disputa política, claro que a coesão da coalizão não é um processo simples, e ele se dá com muito diálogo, com muita conversa”, afirmou.

Sobre o ajuste fiscal, Edinho ressoou o discurso oficial de que ele se deve à crise econômica internacional.

“Claro que estamos passando por um momento de turbulência política, a presidenta corretamente está liderando um programa de ajuste na nossa economia, um ajuste importante porque, devido à mudança no cenário econômico internacional, e não é só o Brasil, todas as economias do mundo estão se readequando a esse novo momento, a questão do preço das commodities, que caíram muito (sic)”, disse o ministro.

Edinho entende “todos os BRICS estão se reposicionando e fazendo ajustes” e “a Europa ainda não terminou ajustes importantes também”.

Fraudes e “readequações” de direitos trabalhistas

Para justificar a Medida Provisória 665 (MP-665), que dificulta o acesso ao seguro-desemprego (só conseguirá agora quem trabalhou ao menos 12 meses nos últimos dois anos), aprovada nesta terça (26) pelo Senado, Edinho citou fraudes no recebimento do benefício.

A mesma lógica, das irregularidades justificarem as “readequações” foi aplicada à MP 664, que altera o acesso a pensão por morte de cônjuges, e às mudanças no seguro-defeso, que beneficia pescadores nos momentos em que a pesca proibida, esta feita junto à MP 665.

Na questão da aposentadoria, Edinho exemplifica com suposto caso de “avô casando com a mulher do neto”. Sobre os direitos dos pescadores, diz que havia cidades com “mais beneficiários do que o número de habitantes”.

A respeito do seguro-desemprego, Edinho justificou: “Para que você preserve o seguro-desemprego como uma vitória histórica dos trabalhadores, você tem que readequar a regra”.

“Quando o seguro-desemprego foi criado, nós tínhamos um desemprego estrutural no país”, argumentou. “Não é a realidade hoje do Brasil. Por mais que a gente esteja vivendo uma turbulência econômica, nem de perto nós vamos viver uma situação de desemprego estrutural”.

O ministro preferiu não citar a fiscalização para coibir as fraudes. Outros programas de benefícios do governo têm apresentado irregularidades, como o Prouni, em que se constatou 47 mortos entre os bolsistas.

Justificativas – Inflação e conta de luz

Em relação ao aumento da inflação, que já atingiu 4,56% de janeiro a abril e 8,17% nos últimos 12 meses (IPCA), muito acima do teto da meta de 6,5%, Edinho citou questões externas como a seca (“maior dos últimos 50 anos”) e o reajuste das mensalidades e serviços do começo do ano.

O ministro falou sobre o aumento na conta de luz também. “Com a diversificação da matriz energética, e isso foi muito positivo, desde o governo Lula nós tivemos essa diversificação grande, se é importante porque nós não temos racionamento, isso teve um impacto grande no reajuste da tarifa”, disse.

“É natural que no começo de ano, até pelas questões climáticas, principalmente a alimentação, você tem um aumento de preço”, afirmou o ministro da comunicação do governo.

Corrupção

“Corrupção é ruim em qualquer cenário”, disse Edinho. “Às vezes as pessoas se chocam com a corrupção, mas eu prefiro a corrupção denunciada e apurada do que a corrupção acobertada”, discursou, sem citar explicitamente a Operação Lava Jato.

Edinho elogiou os “organismos de fiscalização e de apuração de denúncias de corrupção”, que, segundo ele, “nunca tiveram tanta autonomia de trabalho”.

“O Ministério Público, não tem nenhum tipo de ingerência no Ministério Público; a Polícia Federal, não tem nenhum tipo de ingerência na Polícia Federal”, disse. “Por isso tantas denúncias aparecem e por isso tantas denúncias são apuradas”, defendeu.

“Ódio e intolerância”

Sobre manifestações populares contrárias ao governo Dilma, como os panelaços, Edinho recitou frase da presidente Dilma: “Eu prefiro o barulho das ruas ao silêncio do autoritarismo”.

Ele ressaltou, no entanto: “O que não podemos admitir é a intolerância, é o ódio”.

Edinho expôs sua percepção histórica a respeito do Brasil, que para ele tem uma “tradição democrática” de respeito às divergências de opiniões. “O Brasil sempre teve isso como um diferencial: aqui as pessoas não brigam porque pensam diferente, as pessoas não se ofendem porque pensam diferente, as pessoas não propagam ódio porque pensam diferente”, vislumbrou o ministro.

Ele teme, porém, que “está perigoso” perder esse suposto histórico de pacificidade. “Temos responsabilidade de pregar que as pessoas podem pensar diferente.”

Agenda positiva

Como resposta às dificuldades citadas no começo da entrevista, Edinho enumerou uma série de programas do governo que ajudariam o País a sair da crise.

“(O governo) passa por um momento difícil, mas começa a organizar uma agenda extremamente positiva”, garantiu.

Ele citou o Plano Safra da Agricultura Familiar, “importante para a retomada do crescimento do setor agroindustrial”. O governo promete investir no mínimo R$ 25 bilhões no programa que deve ser anunciado em 15 de junho.

Também destacou o Plano de Investimentos em Logística, que Edinho considera um plano “extremamente ousado, o maior plano de investimento e logística da história recente de nosso país”. Esperam-se investimentos de dezenas de bilhões em obras de infraestrutura, como ferrovias e portos, em programa a ser anunciado em breve.

“Já agora em junho, com essa agenda positiva, estou muito confiante, porque tudo mostra e tudo indica que o País vai retomar o crescimento econômico”, aventou Edinho, apesar de o mercado e o próprio governo federal anunciarem expecativas de retração no PIB para 2015.

Edinho destacou ainda a importância da Petrobras para a esperada retomada. “Depois de todas essas dificuldades, todas as denúncias que nós tivemos, a Petrobras retoma agora um plano de investimentos que também deve ter um impacto muito positivo”.

Ouça a entrevista completa dada ao repórter Thiago Uberreich no áudio do começo do texto.

(Imagens do texto: Marcelo Camargo/Agência Brasil; freeimages e Folhapress)

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