Morre paciente que viveu 51 anos em hospital de SP

Paulo Henrique Machado mantinha um canal no Youtube com 70 mil inscritos, onde contava a sua rotina na instituição; ele contraiu poliomielite ainda quando criança

  • Por Jovem Pan
  • 19/11/2020 16h41 - Atualizado em 19/11/2020 20h54
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Reprodução/Facebook Paulo Henrique Machado Paulo Henrique Machado e Tatá Werneck na CCXP

O paciente Paulo Henrique Machado, que vivia há 51 anos no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), no centro da capital paulista, morreu nesta quinta-feira, 18. Ele contraiu poliomielite quando criança e, devido às sequelas da doença e aos cuidados médicos que a sua condição clínica inspirava, vivia no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do hospital desde 1969. Paulo mantinha um canal no Youtube há quatro anos, com mais de 70 mil inscritos, onde compartilhava vídeos de sua vida e rotina na instituição. Há duas semanas, ele havia publicado uma transmissão ao vivo intitulada “Apesar de Tudo, Estamos Vivos!”, em que conta que passava por dificuldades, devido a um problema no estômago e uma pedra na vesícula. “As coisas não estão muito bem, a situação está meio complicada”, afirmava o paciente. Paulo já estava na UTI há alguns dias e os médicos chegaram a suspeitar que estaria com Covid-19. No entanto, a opção foi descartada. Ele morreu de infecção generalizada, que começou no pulmão. Em nota, o Hospital das Clínicas lamentou o falecimento e transmitiu solidariedade aos familiares e amigos.

No vídeo de abertura do canal, Paulo relata que foi para o hospital com um ano e meio de idade e que lá aprendeu a ler, escrever, concluiu o ensino médio e fez vários cursos na área de informática e softwares. Ele trabalhava com edição de vídeos e criou uma série de desenhos animados destinado ao público infantil, “As Aventuras de Léca e Seus Amigos”, que conta a história de sete crianças com deficiência física. “Nada me impediu de ter uma vida normal, a minha mente é livre. Ao mesmo tempo que o meu físico tem limites, acabo explorando a liberdade pela minha mente, através do meu cérebro, eu escapo da vida que eu tenho aqui. Não é uma vida triste, eu tenho proteção, segurança, até que é uma vida boa”, disse em uma das gravações.

Homenagens

A senadora Mara Gabrilli (PSDB), que sofreu um acidente de carro há anos que a deixou tetraplégica, publicou nas redes sociais uma homenagem para Paulo. “Sonhar era um verbo que o Paulinho exercia todos os dias. Na política, ele tentou ser deputado estadual porque sonhava, da sua cama hospitalar, melhorar a saúde pública para todos os brasileiros. Embora vivesse em um hospital, era longe de ser um solitário. Estava sempre rodeado de amigos, mesmo que virtualmente, e por mais de 40 anos ele dividiu a UTI com sua amiga Eliana Zagui, a quem ele chamava de irmã. A imagem que ficará do Paulinho é do seu sorriso de menino e do seu dom de levar a vida com uma leveza de invejar a qualquer um. Segundo suas próprias palavras “Vale muito a pena viver!” Não é à toa que o Paulinho gostava de super heróis. Ele se sentia em família. Gratidão, meu amigo, por tudo que você inspira”, escreveu a parlamentar.

A Comic Con Experience (CCXP) também lamentou a morte de Paulo. Uma de suas poucas saídas do hospital era para prestigiar o evento, já que era fã do universo geek. “O mundo perdeu um herói. Paulo Henrique Machado nos deixou hoje, mas sua história viverá para sempre em nós. Porque não existe nada mais poderoso que uma boa história e a dele foi incrível. Obrigado por nos alegrar, inspirar e compartilhar suas paixões com a gente, seja nos seus vídeos ou nos corredores da CCXP. Vá em paz”, escreveu a página oficial do evento no Facebook.

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