Mortes por Covid-19: Como ajudar crianças a lidarem com o luto na pandemia

Psicóloga orienta a evitar metáforas como ‘virou uma estrelinha’ na hora de conversar com os pequenos; no caso do coronavírus, é importante explicar a gravidade da doença e os riscos de contaminação

  • Por Camila Corsini
  • 11/04/2021 08h00
REUTERS/Kim Hong-Ji REUTERS/Kim Hong-Ji Profissional explica que é importante ajudar a criança a expressar o que está sentindo para elaborar o luto

Cada um dos mais de 2,9 milhões de mortos pela Covid-19 no mundo eram pessoas importantes na vida de alguém. Seja pai, mãe, avós ou amigos, as crianças sofrem com a perda súbita de entes queridos e, devido à pandemia, assim como os adultos, não podem se despedir. Se já é difícil entender a morte e viver o luto na idade adulta, os pequenos lidam de forma diferente com a questão. “A criança vai entender o luto de acordo com cada faixa etária. Até os três anos de idade, o fim da vida é percebido como uma ausência. Entre três e oito anos, a criança assimila a morte de uma forma mais fantasiosa, achando que a pessoa foi viajar e que pode voltar. É a partir dos nove anos que a criança começa a ter consciência da morte de forma mais clara”, explica a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em psicologia clínica pela PUC-SP.

No entanto, independentemente da idade, é importante evitar analogias — mas falar da forma mais simples possível. “O importante é dar a notícia de forma clara, sem muitos detalhes, principalmente se for uma morte trágica, e evitar as metáforas. Um exemplo é dizer que a pessoa ‘virou uma estrelinha’. Isso pode confundir a cabeça da criança e fazer com que ela tenha a esperança de que a pessoa possa voltar.” A psicóloga explica que é importante ajudar a criança a expressar o que está sentindo para elaborar o luto — que é um estado emocional que se caracteriza pelo sentimento da perda. Afinal, a morte é o rompimento mais definitivo de um laço de amor que alguém pode viver.

Há alguns anos, falava-se em estágios do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Hoje eles não são mais considerados peças-chaves no momento. Cada pessoa enfrenta o processo de forma bastante individual e não linear — alguns vivem de forma mais intensa, outros menos. Além disso, a princípio, o luto não é uma doença. Mas, a depender do contexto, pode se tornar patológico. Por isso, fique atento a sinais como culpa, dificuldade na concentração, tristeza profunda e alterações de humor. “É importante ajudar a criança a expressar o que ela está sentindo para elaborar o luto. Rituais são muito bem-vindos, como fazer um desenho, cantar uma música, soltar um balão no céu. Perguntar para a criança como ela gostaria de se despedir e o que ela gostaria de falar é muito importante, pois contribui para o entendimento dela sobre a morte”, avalia Vanessa.

E o segredo está aí: não determinar um tempo para o luto durar, porque pode levar um período para aceitar a condição e adaptar o novo contexto. Fazer terapia também ajuda muito no processo e contribui de uma forma muito positiva na ressignificação da perda. No caso da Covid-19, é importante também aproveitar o momento para explicar a gravidade da doença e os riscos de contaminação, além do motivo do caixão ser lacrado. “Pode ser dito que o velório será substituído por um encontro virtual, com várias pessoas e, nesse encontro, poderá ser organizado um ritual de despedida, onde a criança terá a chance de se manifestar e expressar seus sentimentos. Essa ação pode ajudar a minimizar o sofrimento e a expressar seus sentimentos nesse momento tão difícil”, finaliza a psicóloga.

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