Para transferir Marcola, São Paulo isolou 134 presos do PCC

O principal líder da organização criminosa foi transferido em fevereiro para Rondônia, de onde partiu no mês seguinte para Brasília

  • Por Jovem Pan
  • 18/04/2019 12h15
Estadão Conteúdo Marcola sai de um caminhão de transporte penitenciário O principal chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola

Para fazer a transferência do principal chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e de mais 21 lideranças, o governo estadual isolou 134 presos, apontados como mensageiros da organização criminosa. A ascensão de novos líderes ainda é monitorada pela gestão de João Doria (PSDB) e pelo Ministério Público de São Paulo.

Embora fosse considerada importante para desestabilizar a cadeia de comando do PCC, a transferência para o sistema federal deixou autoridades preocupadas com possíveis retaliações — a exemplo do que houve em maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ataques em São Paulo. Por isso, forças de segurança elaboraram uma estratégia: dificultar a emissão de “salves”.

“Isso foi feito com o setor de inteligência identificando presos que poderiam mandar algum tipo de mensagem para quem está na rua”, disse o coronel Nivaldo Restivo, secretário estadual de Administração Penitenciária (SAP). “Essa decisão de concentrar e isolar potenciais fornecedores de informação e de ordens acabou tirando a voz do bando.”

Uma semana antes da megaoperação que transferiu Marcola, a SAP abriu cerca de 300 vagas na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, localizada na região oeste, transferindo detentos de lá para unidades próximas. Na manhã do dia 13, os espaços serviram para receber 129 “mensageiros do PCC”, trazidos do Estado inteiro, com prazo de permanência de 30 dias.

Mais cinco chegaram depois. As demais vagas eram destinadas a presos que poderiam se envolver em motins ou ações intimidatórias em represália à transferência dos seus líderes – o que não aconteceu.

O primeiro pedido de transferência foi feito pelo MPE-SP à Justiça em 28 de novembro de 2018. Por cautela, o Judiciário optou por autorizar a operação após o Natal, já que nessa época parte dos presos estaria nas ruas por causa das chamadas “saidinhas”.

Entre os alvos da transferência, não havia só membros da chamada Sintonia Geral Final – a alta cúpula do PCC, da qual Marcola faz parte -, mas também criminosos do segundo e do terceiro escalão, considerados sucessores naturais.

“(São pessoas que) sempre estiveram perto de Marcola, próximas do poder”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, do MPE-SP, responsável pelo pedido de transferência à Justiça. “Isso leva, momentaneamente, a uma quebra no comando. Ao menos desde 2002, era a mesma cúpula que comandava as ações da facção.”

Novas lideranças

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, O PCC não deve ficar por muito tempo “acéfalo”. De acordo com as investigações, Marcola já havia instruído outros membros sobre como manter a operação criminosa – que é ancorada no tráfico de drogas – em caso de ausência. “Os negócios comuns do PCC não pararam um minuto porque tem muita gente na rua e muita gente no sistema (penitenciário) com condição de dar continuidade a esses negócios ilícitos”, afirmou o promotor.

O exemplo mais recente envolve a apreensão de um helicóptero, flagrado no último sábado pela Polícia Federal durante a Operação Flying Low. A aeronave vinha do Paraguai e pousou em Presidente Prudente para reabastecer. Nela, os agentes encontraram meia tonelada de cocaína – a principal suspeita é de que a droga seja do PCC.

Para Gakiya, a disputa de poder deve ocorrer entre membros que ficaram em São Paulo e pode ser marcada por violência. “Vai acontecer o que já aconteceu em outras máfias conhecidas mundialmente, que não ficam sem comando”, disse. “Alguém da rua ou de dentro do sistema pode querer tomar essa liderança para si ”

Tanto o MPE-SP quanto a SAP monitoram “candidatos” a líder da facção. Representantes dos dois órgãos afirmam que, em caso de identificação, a política será a mesma: transferir para prisões federais. “Temos feito acompanhamento 24 horas por dia. Se detectarmos, vamos adotar todas as providências para sufocar isso novamente”, disse Restivo.

A transferência

Em fevereiro, Marcola foi levado da penitenciária de Presidente Venceslau, em São Paulo, para o presídio federal de Porto Velho, em Rondônia. Um mês depois, ele foi transferido para outro presídio, em Brasília.

Em nota divulgada na época, o Ministério da Justiça informou que a ação faz parte “dos protocolos de segurança pública relativa à alternância de abrigo dos detentos de alta periculosidade ou integrantes de organizações criminosas entre as unidades prisionais federais”.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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