Polícia e MP cumprem mandados de busca e apreensão contra muralista Eduardo Kobra e Prefeitura de Boa Vista

“Operação Aquarela” investiga supostas irregularidades no contrato para a pintura de um mural

  • Por Jovem Pan
  • 22/07/2022 20h51 - Atualizado em 25/07/2022 12h54
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Reprodução/Redes sociais Iguana do Eduardo Kobra Assinado por Kobra e realizado por uma equipe dele, o mural, que fica no Parque do Rio Branco, representa uma iguana

A Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Roraima deflagraram, nesta sexta-feira, 22, a “Operação Aquarela”,  que investiga supostas irregularidades no contrato para a pintura do mural do artista brasileiro Eduardo Kobra. Na ação, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão. Assinado por Kobra e realizado por uma equipe dele, o mural, que fica no Parque do Rio Branco, representa uma iguana. A obra teve um investimento de R$ 400 mil por parte da Prefeitura de Boa Vista e foi entregue em dezembro de 2020. No entanto, quatro meses depois, em abril de 2021, o mural estava deteriorado. Por conta disso, a equipe do muralista restaurou o painel em maio. Agora, a operação tem por objetivo investigar a contratação de Kobra pela prefeitura. A suspeita é de que houve superfaturamento de contrato de serviço e que o mural não foi entregue como pedido.

Kobra ressalta que atua há mais de três décadas como muralista, com trabalhos em  diversos Estados brasileiros e mais de 40 países.  “Fui contratado pela prefeitura de Boa Vista para executar o trabalho. De minha parte, como sempre em minha carreira, todo o valor está declarado, com os impostos e taxas pagos conforme a lei. Sobre isso, informo que toda a documentação referente à minha contratação, bem como os comprovantes de recebimentos e de pagamentos pertinentes ao caso estão à disposição de autoridades que precisem confirmar o caráter lícito”, diz o muralista. “O valor da minha contratação é compatível com uma obra de tais dimensões e a minha trajetória. Além disso, um trabalho assim envolve diversos custos de materiais, equipamentos, deslocamentos da equipe e remuneração dos diversos profissionais envolvidos.”

O MP também investiga o fato de o artista não ter executado a obra de forma presencial, o que, segundo Kobra, nunca foi ocultado. “Criar e executar com uma equipe é prática habitual no mundo artístico contemporâneo. Devido à pandemia, como foi amplamente divulgado pela imprensa, cancelei ou adiei em 2020 e parte de 2021 os trabalhos que faria no exterior e em alguns Estados brasileiros. Nesse trágico período, profissionais não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, tiveram que adaptar seu cotidiano e modo de trabalho. Meu caso não é diferente. Eu não poderia viajar até Roraima por respeito ao isolamento e pelo fato de eu pertencer a um grupo de risco, o que aumentava exponencialmente meu perigo de contrair Covid-19. Durante a pandemia, fizemos poucos trabalhos. Quase todos foram beneméritos, para arrecadar fundos para pessoas necessitadas e entidades que atuam na área da saúde.

Sobre a pintura, segue Kobra, sempre existe um processo natural de desgaste. “Eu mesmo tenho um projeto, amplamente noticiado em jornais, sites e televisões, chamado ‘A Arte de Restaurar’, que visa recuperar algumas das obras que se tornaram pontos icônicos das cidades. Esse desgaste leva anos para acontecer. Em Boa Vista ocorreu em quatro meses. Nunca, em nossa trajetória, havia acontecido nada do gênero. O problema é no muro, é estrutural; não tem relação com a qualidade das tintas ou com a técnica utilizada. Mesmo assim, embora não fosse parte do meu contrato, destaquei uma equipe própria para efetuar um restauro no ano passado, quando o problema surgiu. E sigo à disposição para discutir, junto à equipe técnica da contratante, possíveis soluções para que, mais do que remediado, o problema possa ser resolvido de forma definitiva.”

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