Presidente licenciado da Eletronuclear depõe e nega recebimento de propina
Em depoimento prestado ontem (30) à Polícia Federal, o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, negou ter recebido propina do consórcio vencedor da licitação para a construção da Usina Nuclear Angra 3. Othon foi preso na terça-feira (28), na 16ª fase da Operação Lava Jato.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF), o presidente licenciado recebeu cerca de R$ 4,5 milhões para favorecer o consórcio. Conforme a acusação, as empresas Camargo Corrêa, UTC, Andrade Gutierrez, Odebrecht, EBE e Queiroz Galvão repassavam recursos para empresas intermediárias, que transferiam a propina para Othon.
Aos delegados da PF, Othon afirmou que nunca exigiu ou recebeu vantagem financeira, e não recebeu orientação do governo federal e de partidos para cobrar doações financeiras das empreiteiras.
“Inclusive alegações nesse sentido deixam o declarante consternado, pois nunca agiria dessa forma, sendo que tem atuação profissional reconhecida e de longa data, e jamais se prestaria a uma situação destas”, diz trecho do depoimento.
Othon também declarou à Polícia Federal que foi convidado pelo ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau para colocar “ordem na casa”. Segundo ele, em 2005, a Eletronuclear estava em más condições e como era conhecido na área, assumiu o cargo.
Sobre a empresa Aratec Engenharia, Othon afirmou que os pagamentos recebidos pela empresa, por meio da Eletronuclear, e citados pela acusação, ocorreram antes da assinatura do contrato com o consórcio de Angra 3. Os valores, segundo ele, referem-se a serviços de tradução prestados por sua filha. À PF, o presidente licenciado disse que passou o comando da empresa para sua filha, após ingressar na estatal.
Segundo o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal conseguiram provas de que a empresa Aratec Engenharia recebeu “pagamentos vultosos” de empreiteiras investigadas, como Andrade Gutierrez, e que fazem parte do consórcio Angramon, que venceu a licitação.
Othon também explicou aos delegados que pediu afastamento da presidência da Eletronuclear após ter noticia de que Dalton Avancini, ex-executivo da Camargo Correa, assinou acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato.
Othon afirmou que não queria prejudicar a estatal, pois uma auditoria foi aberta, por exigência do órgão do governo dos Estados Unidos que investiga o mercado financeiro, tendo em vista que a estatal tem ações na bolsa norte-americana.
A 16ª fase da Lava Jato, batizada de Radioatividade, foi desencadeada a partir do depoimento de Dalton Avancini. Na delação, ele revelou a existência de um cartel nas contratações de obras da usina nuclear Angra 3 e chegou a citar Othon Luiz Silva como beneficiário de propinas.
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