Quem irá substituir Mansueto?
A saída do secretário do Tesouro, defensor do equilíbrio das contas públicas, se dá em plena piora da situação fiscal do país, que caminha para um déficit superior a R$ 700 bilhões
Por sua posição firme como defensor do equilíbrio das contas públicas, a saída de Mansueto Almeida da Secretaria do Tesouro Nacional traz uma grande preocupação: quem vier a substituí-lo manterá o mesmo rigor na política fiscal? Num momento em que o país está caminhando para um déficit público superior a R$ 700 bilhões no ano – há quem projete bem mais, até 1 trilhão – e para um crescimento da dívida pública acima de 90% do Produto Interno Bruto, a troca no comando do Tesouro é uma operação especialmente delicada, a ser acompanhada com lupa.
O Brasil começou o ano com perspectiva de crescimento econômico e com uma consequente projeção de redução do peso do endividamento público. O primeiro ano do governo Bolsonaro, com Mansueto segurando as rédeas fiscais, registrou um feito: a primeira queda da dívida pública bruta desde 2013. O total devido caiu de 76,5% do PIB ao final de 2018 para 75,8% no final do ano passado – pode parecer uma diferença pequena, mas representava uma importante guinada na tendência.
Havia um panorama de que, com a reforma da Previdência vigorando plenamente neste ano e com os limites impostos pelo chamado “teto de gastos”, a retomada da economia aos poucos ganharia tração. Investidores e empresários teriam mais segurança para tocar projetos e o país caminharia neste e nos próximos anos para um quadro fiscal mais equilibrado e para resultados mais animadores no emprego e na produção. Já se falava até em quanto tempo levaríamos para recuperar o selo de “grau de investimento”. Trata-se de uma nota das agências internacionais de classificação de risco de dívida que serve praticamente como uma recomendação para os investidores botarem dinheiro no país. O Brasil contou com esse status de “bom pagador” de abril de 2008 a setembro de 2015.
Neste ano, não estava nos planos, obviamente, a crise gerada pela chegada do coronavírus ao país, no final de fevereiro. Pouco depois, começou a ficar claro que os indicadores da economia iriam afundar – a geração de riquezas, o emprego e a arrecadação de impostos, entre eles. E a Secretaria do Tesouro passou a lidar com o desbaratamento completo da política fiscal. O plano que Mansueto estava desenhando para ajudar diversos estados que já vinham com as finanças desmilinguidas, devido à recessão de 2014-2016 e à má gestão por parte de governos locais, teve de ser ampliado e virou uma emergência. Por todo lado, brotou a necessidade de usar o Tesouro como o provedor de recursos para auxiliar governos, sistema de saúde, empresas e cidadãos a sobreviver à pandemia. Cresceu a pressão para abandonar o teto de gastos e rever um leque de políticas de austeridade.
Resistindo às pressões, Mansueto aceitou mudanças, mas advertindo que, mais do que nunca, é preciso pensar nas contas que o país irá carregar no futuro. “Dez por cento do PIB em déficit fiscal neste ano pode ser considerado uma previsão otimista”, disse ele em um evento público recente. Mais realista é esperar algo na faixa de 12% a 13% de rombo, elevando a dívida para 94% do PIB.
Não por sua vontade, essa é a situação que ficará para o sucessor de Mansueto. A grande pergunta agora é: quem vai encarar a missão? Com a palavra, o ministro Paulo Guedes.
*Beto Caetano é comentarista de economia e negócios da Jovem Pan
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