Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, pede demissão

Joaquim Pereira Leite, secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, assume a pasta; Salles é investigado pelo STF após operação da Polícia Federal

  • Por Jovem Pan
  • 23/06/2021 17h20 - Atualizado em 23/06/2021 21h41
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 22/10/2020 O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, durante Cerimônia de Formatura dos alunos do Instituto Rio Branco

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles pediu demissão ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta quarta-feira, 23. O pedido de exoneração já foi publicado no Diário Oficial da União (DOU). Salles é alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) após a Procuradoria-Geral da República apontar o ministro como suspeito de atrapalhar a investigação de um esquema de contrabando de madeiras. Salles também é investigado pelo Supremo em meio aos desdobramentos de uma operação da Polícia Federal para apurar a facilitação de exportação ilegal de madeira da região amazônica. O atual secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, Joaquim Álvaro Pereira Leite, foi nomeado para o comando da pasta. Salles estava à frente do ministério desde o início do governo de Jair Bolsonaro e era considerado um dos ministros mais próximos do presidente. O ex-auxiliar chegou a receber um elogio de Bolsonaro nesta terça-feira, 22, em evento no Palácio do Planalto. O mandatário parabenizou Salles e lamentou o tratamento que recebe de outro poder, em alusão ao STF. “Parabéns Ricardo Salles. Não é fácil ocupar o seu ministério. Por vezes a herança fica apenas uma penca de processos. A gente lamenta como por vezes somos tratados por alguns poucos que é muito importante para todos nós”, afirmou.

Em coletiva de imprensa para explicar a exoneração, Salles citou avanços feitos ao longo da sua gestão na pasta como a aprovação do marco legal do saneamento, a criação do programa Lixão Zero, a concessão dos parques nacionais, os projetos Floresta+ e Adote um Parque, entre outros. “Medidas alinhadas com o projeto escolhido pelo Brasil em 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro de forma democrática. Foi uma mudança em relação a orientação que a esquerda tinha nos últimos anos. A alternância de poder, as visões diferentes, são muito importantes”, afirmou Salles. De acordo com o agora ex-ministro, o pedido de demissão foi feito porque o Brasil necessita, ao longo deste ano e do próximo, de uma “união muito forte de interesses, anseios e esforços” pela inserção internacional e nacional. “Para que isso se faça da maneira mais serena possível, apresentei ao presidente meu pedido de exoneração, que foi atendido, e serei substituído pelo general Joaquim Álvaro Pereira Leite, que também tem muita experiência e conhece todos esses assuntos”, disse.

Salles falou, ainda, sobre as contestações que sofreu durante a sua gestão. “Eu acho que o Brasil avançou muito, e precisa continuar avançando. Não é possível que a gente criminalize, tente dar um caráter de infração, a opiniões e visões diferentes. A sociedade precisa desse avanço. Experimentamos muitas contestações sobre as medidas que foram tomadas ou que foram planejadas, em uma tentativa de dar a essas medidas um caráter de desrespeito à legislação e à Constituição, o que não é verdade. Diversas delas são importantes, necessárias. A sociedade brasileira espera esse respeito ao setor produtivo, ao setor privado, que por muitos anos foram sendo vilipendiados”, pontuou.

O ex-ministro virou alvo de inquérito no STF no início deste mês após a ministra Cármen Lúcia autorizar investigação ao atender um pedido da PGR feito no dia 31 de maio. A solicitação tinha como base a notícia-crime apresentada em abril por suposta tentativa de atrapalhar investigações sobre a Operação Handroanthus, na qual foi feita a maior apreensão de madeira do Brasil. O delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, na época superintendente da PF no Amazonas, foi responsável por protocolar a acusação. Uma semana depois, o governo colocou outro delegado para o posto. À época, o ex-ministro negou a tentativa de atrapalhar investigações “Não houve nenhuma atuação nem minha e nem de ninguém do governo para defender empresários. Uma falsa narrativa levada na notícia-crime tenta colocar essa história, mas não foi verdadeira”, afirmou à Jovem Pan.

O ex-ministro também é alvo do STF como suspeito de envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e Europa. Salles foi um dos envolvidos na Operação Akuanduba, deflagrada pela PF em maio. Os mandados foram autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que também determinou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Salles. A Corte pediu, ainda, o afastamento preventivo de dez agentes públicos que ocupavam cargos de confiança no Ibama e no Ministério do Meio Ambiente. A operação também suspendeu imediatamente um despacho do Ibama que liberou a exportação de produtos florestais sem licenças. De acordo com a PF, as investigações foram iniciadas em janeiro deste ano a partir de informações obtidas junto a autoridades estrangeiras noticiando possível desvio de conduta de servidores públicos brasileiros no processo de exportação de madeira.

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