Doria é eleito prefeito de SP no 1º turno; sangue frio foi a grande arma do “não-político”

  • Por Marcelo Mattos/Jovem Pan
  • 01/10/2016 17h19

Na decisão do dia 10 de setembro Reprodução/Facebook João Doria - Rep Facebook

João Doria Jr. (PSDB) é o novo prefeito de São Paulo. Numa arrancada surpreendente, ele venceu as eleições ainda no primeiro turno.

As últimas pesquisas antes da votação apontavam um segundo turno entre Dória e o candidato petista Fernando Haddad. No sábado, o Ibope apontava o candidato com 35% das intenções de voto. O DataFolha ficou mais perto da realidade, e mostrou Doria com 44%. O tucano, no entanto, obteve mais de 53% dos votos válidos, totalizando 3.085.181 de votos. 

A vitória se deveu, em parte, ao fato de que seus três adversários mais fortes – Celso Russomano (PRB), Marta Suplicy (PMDB) e Fernando Haddad (PT) – se digladiaram na reta final, ferindo uns aos outros, mas deixando Doria nadar de braçada. 

Antes de se sagrar candidato, Doria enfrentou grande resistência no interior do PSDB. A maior parte das lideranças históricas do partido preferia o vereador Andrea Matarazzo concorrendo à prefeitura. Coube ao padrinho político de Dória, o governador Geraldo Alckmin, suplantar essa oposição.

Alckmin impôs sua vontade, e também vai colher os benefícios: com a vitória acachapante do pupilo, ele se posiciona para concorrer à presidência da Republica pelo PSDB, em 2018. O tucano que mais perde com a eleição de Dória é José Serra, atual ministro das Relações Exteriores no governo Temer. Ele se manteve próximo de Matarazzo, nunca fez campanha para Dória e se vê em condição precária no próprio partido. 

Se o apoio de Alckmin pesou bastante, Doria também teve méritos. Ele mostrou, antes de mais nada, grande sangue frio.

Depois de prevalecer nas prévias, ele se esquivou das críticas de que a máquina política de Alckmin havia atuado a seu favor e evitou exacerbar ainda mais os ânimos. Passou a fazer o trabalho que importava para as eleições: correu atrás dos votos tucanos em todos os diretórios e passou a visitar as mais diversas regiões de São Paulo, dando início ao contato com a população. Ajudou também a costurar a ampla aliança de 12 partidos que lhe garantiu o maior tempo de propaganda eleitoral, fundamental para que se apresentasse ao paulistano na primeira aventura eleitoral.

Seu estilo ficou bem visível na terça-feira antes das eleições, quando ele encerrou sua caminhada pela feira de Pirituba, no Noroeste da capital, e reuniu os jornalistas para uma entrevista. Às suas costas um feirante, nitidamente contrário à sua candidatura, começou a gritar e bater na barraca. Doria não se abalou. Chamando os repórteres pelo nome, ele procurou outro local e retomou a coletiva do ponto onde havia parado. Foi assim durante toda a campanha. 

Do começo ao final, Doria se mostrou bem treinado nas respostas a qualquer questionamento. Mesmo nas perguntas mais espinhosas, não mudava seu tom de voz. Fugiu das pegadinhas, manteve o controle nas críticas aos adversários e, sobretudo, não se enredou na discussão de temas nacionais, como as reformas da Previdência e Trabalhista.

Doria martelou a ideia de que não é político, mas respeita os políticos – uma meia verdade, uma vez que ele foi nomeado para cargos administrativos pelo ex-presidente José Sarney e pelo ex-governador Mario Covas, e nunca descuidou dos vínculos com o poder enquanto traçava seu caminho de empresário. 

Um único episódio da campanha quase apagou o sorriso constante do candidato. Uma ação iniciada em 1997 pela prefeitura de Campos do Jordão o acusa de ocupar um terreno público de 400 metros quadrados, área vizinha de sua mansão na cidade, a Vila Doria, avaliada em R$ 2 milhões. A decisão na instância final veio em plena campanha, em 22 de setembro, e obrigou João Doria a devolver a área para o município. Cobrada pela imprensa, a campanha respondeu que “diante da celeuma criada, o candidato decidiu abrir mão de seus direitos e devolveu a área”.

A estratégia para atingir a população carente passou pela lembrança constante de que sua família teve momentos de probreza, em razão do exílio político do pai, e o jingle de “João Trabalhador” ajudou a justificar a atual riqueza – seu patrimônio declarado é de R$ 180 milhões. Se eleito, Doria promete doar o salário de prefeito de São Paulo para instituições carentes.

Durante a campanha, Doria usou um SUV importado coreano nos deslocamentos pela cidade. Os carrões alemães e jipes ingleses não aparecem.  

Ele também abandonou os ternos caros e bem cortados, preferindo a calça esportiva, camisa e sapatênis. Ainda assim, tudo que vestia custava bem mais que o salário mínimo do País.

Sempre sorrindo, cabelo bem penteado, sem um fio branco, Doria obviamente passou por cirurgias plásticas e procedimentos estéticos que o mantêm jovem, sem uma única ruga.

Nas primeiras andanças pela cidade, o candidato se deparou com a famigerada “comida de campanha”. As caretas para engolir as iguarias obviamente caíram na internet, e o fato levou sua equipe a solicitar aos profissionais que não registrassem essas imagens. 

Aos poucos o tucano se soltou. Na reta final já abraçava a todos nas ruas, sem se esquecer dos idosos e das criancinhas. O “não-político” dominou o jogo rapidamente. 

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