Vale tinha lista sigilosa com 10 barragens ‘em situação inaceitável de segurança’, diz promotor
Entre elas estava a barragem que se rompeu em Brumadinho em 2019 e matou 270 pessoas
O promotor William Garcia Pinto Coelho afirmou nesta terça-feira (21), em entrevista coletiva, que a mineradora Vale e a empresa de consultoria TÜV SÜD tinham uma lista sigilosa com 10 barragens “em situação inaceitável de segurança” — e que, entre elas, estava a barragem 1, que se rompeu em Brumadinho no dia 25 de janeiro de 2019 e matou 270 pessoas.
Além disso, de acordo com o promotor, no dia 9 de janeiro de 2019, poucos dias antes do rompimento, a diretoria da Vale recebeu um e-mail de um remetente anônimo alertando para um problema de segurança na B1 que poderia gerar problemas para as pessoas que moravam no entorno, ressaltando que ela “deveria ser revista com urgência”.
“Um dos pontos graves que verificamos pelo conjunto de ações e omissões dos investigados foi na comunicação para que as pessoas atingidas pudessem sair do local. Se a tragédia não fosse evitada, no mínimo seria atenuada”, disse Coelho.
Para o promotor, há um “volume substancial de provas que indicam o conhecimento de risco por parte do presidente da empresa de diversas barragens em situação inaceitável de segurança”.
Motivo do rompimento
O promotor William Garcia Pinto Coelho informou também que o rompimento ocorreu devido a um fenômeno chamado liquefação, que já era motivo de discussões entre a Vale e consultoras internas e externas desde novembro de 2017.
“A B1 foi tema de um debate internacional em que foram debatidos os fenômenos de liquefação e erosão internas em 2017. Desde lá, já era amplamente discutido e considerado dentro da Vale os riscos inerentes destes problemas”, explicou.
Na liquefação, um material que é rígido passa a se comportar como fluido. Ela ocorre quando o fluxo de água presente nesse material exerce uma força que anula o peso e a aderência de suas partículas, fazendo com que elas fiquem soltas.
É um processo que ocorre naturalmente no meio ambiente nas areias movediças, por exemplo. Em barragens, pode ser provocado por excesso de chuvas, excesso de carga (depositada rapidamente), abalos sísmicos ou problemas no sistema de drenagem.
Denúncias
O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) denunciou nesta terça-feira (21) Fabio Schvartsman, ex-presidente da Vale, outras 15 pessoas e também as empresas Vale e TÜV SÜD pela tragédia. Schvartsman foi denunciado por homicídio duplamente qualificado, enquanto os demais podem responder pelo crime de homicídio doloso.
Em nota, a TÜV SÜD afirmou que “reitera seu compromisso em ver os fatos sobre o rompimento da barragem esclarecidos” e que continua “oferecendo cooperação às autoridades e instituições no Brasil e na Alemanha no contexto das investigações em andamento”.
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