Chacao, a trincheira de batalha residencial da Venezuela

  • Por Agencia EFE
  • 17/03/2014 10h23

Rubén Peña.

Caracas, 17 mar (EFE).- Entre escombros, pedras, barricadas e cheiro de gás lacrimogêneo circulam os moradores de Chacao, no leste de Caracas, que no último mês viram como a privilegiada área residencial da capital venezuelana foi se transformando em um trincheira de batalha vespertina.

Chacao se transformou no bastião das manifestações violentas na capital venezuelana, com cenas que se repetiram diariamente, nas quais pessoas protestam armando “guarimbas” (barricadas) e lançam coquetéis molotov contra os soldados de segurança pública, que respondem com disparos de balas de chumbo, gases e jatos de água.

Os protestos de grupos radicais provocaram vários danos contra o mobiliário urbano, estruturas dos serviços de transporte da cidade, edifícios privados, e mantêm contínuos bloqueios de ruas com lixo queimado que permanece durante dias sobre o asfalto.

“Eu não estou de acordo com o vandalismo, com o protesto sim, sempre e quando seja pacífico”, comentou à Agência Efe Marielena Sánchez, um dona de casa de 60 anos, visivelmente afetada pelo efeito do gás lacrimogêneo que persiste no ambiente.

Um grande cartaz pendurado entre dois postes de luz no centro de Chacao rejeita as ações de violência que castigou este setor da capital venezuelana.

“Chacao repudia agressões contra moradores e bens”, se lê no cartaz, uma alusão que engloba tanto os manifestantes violentos como àaresposta “excessiva”, nas palavras dos responsáveis municipais – da oposição, da Guarda Nacional .

Os transeuntes circulam pelas ruas de Chacao com lenços, outros simplesmente cobrem o rosto com suas mãos, enquanto caminham a passo veloz sobre os escombros removidos das barricadas.

“Não é possível identificar as partes do conflito, uns dizem que são estudantes, outros dizem que fazem parte dos coletivos (chavistas), e passam disparando (…) não sabe quem é quem, mas a situação é realmente conflituosa”, declarou Cleyton Barbosa, um comerciante de 53 anos.

Barbosa comentou que vive um “toque de recolher” depois das 18h, momento no qual, todas as tardes, este município – que após a tomada de poder de Hugo Chávez em 1999 foi governada por prefeitos adversos ao governo – se “transforma em um campo de batalha”.

Javier García, um açougueiro que há um ano trabalha no centro deste município, assegura que as vendas diminuíram e que sai de seu trabalho cedo, “antes que comecem” os distúrbios.

Um grupo de chavistas concentrados na praça El Indio, onde um padre celebra uma missa católica, oram pela “paz e a vida”, enquanto esperam que o ânimo dos “guarimberos” se “apazigue”, segundo comentou à Efe Marlene Vanegas”.

Marlene, que assegura que sua profissão é “ser chavista”, é conhecida no setor após ter participado de todas as campanhas eleitorais do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez.

“Aqui agora está inabitável, isso dá medo, na rua onde eu vivo me deram um pontapé porque joguei água um lixo para que não queimasse”, contou.

Carmen Lorende, uma comerciante da área declarada chavista, disse estar “sequestrada por um grupo de gente que não é estudante”, mas “uns vândalos”.

Lorende comenta que ao sair do setor de Chacao “tudo muda”, e que no centro da cidade, segundo afirmou, “é um clima total de paz”.

Elías Aranguren, um comerciante de Maracay, no centro do país, que visitava a área por negócios, se perguntava quem está por trás das máscaras dos encapuzados, se realmente são infiltrados e se são infiltrados de que lado.

“É preciso lutar, pacificamente, mas é preciso lutar”, ressaltou. EFE

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