Colômbia pede que as Farc assumam responsabilidade com vítimas do conflito

  • Por Agencia EFE
  • 03/10/2014 20h58

Havana, 3 out (EFE).- O governo da Colômbia pediu nesta sexta-feira às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para que se pronunciem às claras e “sem desculpas” sobre a responsabilidade com as vítimas do conflito, que, no entanto, para a guerrilha é “totalmente assimétrica” e sobre as quais o Estado tem a maior obrigação.

O chefe dos negociadores de Juan Manuel Santos, Humberto De la Calle, fez essa pedido à guerrilha no fechamento do 29º ciclo dos diálogos de paz com sede em Havana, uma rodada que esteve marcada pela terceira audiência, realizada ontem, perante a mesa de negociação de um heterogêneo grupo de vítimas que expuseram suas dilaceradoras histórias.

Os depoimentos lembram “porque estamos fazendo o que estamos fazendo, mas também nos obriga a construir respostas e, sobretudo, a que cada um assuma sua responsabilidade”, segundo De la Calle.

“Só essa disposição dará à sociedade sinais claros e honestos de que é possível colocar um fim ao conflito. Isso se aplica a todos os autores. O governo já fez sua parte”, declarou o negociador do governo colombiano.

Para ele, as Farc também devem mostrar essa disposição “de maneira mais categórica” com um pronunciamento “claro” e “sem desculpas” nem reservas.

“As vítimas pedem, aos gritos, que cumpramos com o papel histórico que nos encomendaram e isto requer passos concretos, não retóricos”, ressaltou, lembrando uma frase dita ontem por uma das vítimas: “Não aceitamos ser o toque emotivo de uma negociação”.

A guerrilha afirmou hoje que as Farc reconhecerão as afetações que tenham causado “com a certeza que isso nunca se deveu à realização de ataques propositais contra a população, mas devido a situações imprevisíveis em alguns casos e também erros injustificáveis em outros”.

“Mas sempre indicando que atuamos à margem dos perseguidos e com uma responsabilidade totalmente assimétrica com relação à qual majoritariamente corresponde ao Estado admitir”, disse a guerrilha em uma declaração lida perante a imprensa por “Ivan Márquez” (Luciano Marín Arango), o número dois das Farc e chefe de sua equipe negociadora.

Márquez aproveitou o final de ciclo para insistir em pedir um “armistício”, antes de chegar a um acordo definitivo de paz, algo ao que o governo de Santos se opõe.

“Nos distanciamos de falsas expectativas sobre uma paz expressa, mas com toda a decisão de encurtar distâncias rumo ao acordo final, reiteramos o compromisso de reconciliação insistindo em nossa proposta (…) de traçar já os termos de um armistício”, afirmaram as Farc.

Em seus respectivos comunicados, governo e guerrilha concordaram em rejeitar as “ameaças” e “estigmatização” contra membros dos grupos de vítimas que desde 16 de agosto viajaram a Havana para participar dos diálogos de paz.

As Farc declararam que o governo não pode ser omisso perante essas ameaças, enquanto De la Calle reiterou o compromisso do Executivo colombiano de desdobrar “toda sua capacidade para garantir a proteção” destas vítimas.

Além do novo tête-à-tête com os afetados do confronto, outro compromisso deste ciclo foi a decisão das partes de divulgar a íntegra das minutas dos acordos parciais assinados por governo e guerrilha desde que começou o processo de negociação em Cuba há quase dois anos.

Nesse período, foram alcançados acordos em três dos cinco pontos da agenda que rege este processo de paz: a terra, a participação política e o problema das drogas e o narcotráfico.

Atualmente, o tema de debate é o reconhecimento e reparação às vítimas de um conflito que em cinco décadas deixou mais de 6,5 milhões de afetados, com 220 mil mortos, 25 mil desaparecidos, 5,7 milhões de deslocados e 27 mil sequestrados, segundo dados do Centro de Memória Histórica de Colômbia.

A próxima rodada de conversas começará no dia 20 de outubro. A previsão é de que no dia 29 participe da mesa de diálogo um novo grupo de vítimas, o quarto dos cinco que viajarão a Havana. EFE

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