Começa julgamento de acusados de agressões sexuais da Praça Tahrir, no Egito

  • Por Agencia EFE
  • 25/06/2014 16h40

Imane Rachidi.

Cairo, 25 jun (EFE).- O Tribunal Penal do Cairo realizou nesta quarta-feira a primeira sessão do julgamento de 12 homens acusados de agredir sexualmente várias mulheres na Praça Tahrir durante as celebrações pela posse do presidente Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, no começo de junho.

Os processados, que têm idades entre 16 e 49 anos, negaram as acusações de estupro, assédio, uso de armas brancas, violência e roubo, entre outros, pelos ataques contra várias mulheres nessa praça e seus arredores durante os dias 3 e 8 de junho.

“Um garoto me aconselhou a não ir a praça porque podiam me perseguir e pediu para que eu esperasse um pouco, mas de repente, ele começou a me tocar e vários homens me rodearam nesse momento”, explicou à Agência Efe uma das vítimas, mãe de quatro filhos, que pediu anonimato.

Ela era uma das centenas de mulheres que foram à Praça Tahrir para comemorar a posse de Al-Sisi, após o anúncio dos resultados oficiais das eleições presidenciais realizadas no Egito em maio passado.

Após conhecer estes casos, Al-Sisi ordenou dar prioridade à luta contra o assédio às mulheres depois que seu antecessor no cargo, Adly Mansour, decretou um endurecimento das penas contra aqueles que cometam assédio sexual nas ruas do país.

“Me apartaram na praça na base de empurrões. Depois, começaram a tirar minha roupa, cortando em pedaços com facas, até que um me bateu no pé e acabei caindo no chão”, lembrou a vítima entre lágrimas o que viveu em 8 de junho.

Ela lembra que estava quase totalmente nua em uma rua próxima a praça enquanto vários homens passavam a mão por todo o seu corpo, em todas as partes, com gestos que ela qualificou de “indecentes e insinuantes”.

Ela pediu um veredicto “rápido, justo e sem precedentes” que possa pôr fim a esta praga no Egito, enquanto seu advogado, Nasha Aga, pediu pelo menos 15 anos de prisão para o agressor de sua cliente.

Ao todo, dez mulheres, embora nem todas presentes hoje no tribunal, apresentaram denúncias por esta série de atos, e cinco causas distintas foram abertas.

Em um vídeo divulgado na internet dias depois destes episódios, pode ser visto policiais tentando socorrer uma menina, depois de ela ter sido despida e atingida por uma multidão na praça.

Hatem Said, advogado das irmãs Ikram e Naglat Ahadar, que foram vítimas de outro violento caso de assédio em 3 de junho, mostrou sua esperança em que o julgamento se resolva rápido.

“Um grupo de homens cercou, jogou as duas no chão e eles começaram a tocar todo o corpo delas. Naglat, de 19 anos, sofreu uma forte violação porque um menino lhe introduziu um dedo na vagina e lhe causou grandes ferimentos, enquanto outro homem apagou um charuto debaixo de seu olho”, relatou à Agência Efe o advogado Said.

Já Ikram, que recebeu a visita de Al-Sisi no hospital, continua internada e permanecerá assim por mais três semanas, segundo seu advogado.

Os 12 acusados, que enfrentam uma pena máxima de prisão perpétua, são em sua maioria jovens, e entre eles há, inclusive, um menor.

A Procuradoria Geral, antes de enviar o caso ao juiz, escutou 52 testemunhas, e remeteu a um deles como agressor após ser identificado por algumas das vítimas como parte do grupo que a cercou e atacou na Praça Tahrir.

Segundo as investigações, os processados são “criminosos” que vão com frequência à Praça Tahrir em todos os momentos de celebração para aproveitar a multidão e abusar sexualmente de pessoas.

Outra mulher, de 42 anos, foi sequestrada por vários deles, que a tiraram da praça, a despiram para violá-la, lhe cortaram e fizeram um ferimento de cinco centímetros em seu corpo, explicou o fiscal durante a sessão de hoje.

Do lado de fora do tribunal, parentes dos acusados pediam entre lágrimas a libertação de seus filhos ou irmãos, assegurando que não tinham cometido os crimes e que foram detidos de forma arbitrária.

Os casos de assédio sexual aumentaram no Egito desde 25 de janeiro de 2011, especialmente em grandes concentrações, manifestações e celebrações de festividades.

As jornalistas estrangeiras também foram vítimas de agressões sexuais em Tahrir, como foi o caso de Lara Logan da emissora americana “CBS”, durante os dias das revoltas que depuseram a Hosni Mubarak. EFE

ir/cdr

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