Consórcio paralisa obra do Rodoanel Norte e Dersa ameaça romper contrato

  • Por Estadão Conteúdo
  • 03/06/2016 08h40
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O Governador de São Paulo visitou as obras do Rodoanel Norte, na região do Jd.Antartica, zona norte de São Paulo. São Paulo 20/10/2015 - Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG Eduardo Saraiva/A2IMG Trecho Norte terá 44 km de extensão e interliga os trechos Oeste e Leste do Rodoanel

A paralisação por cerca de um mês das obras de um dos lotes do Trecho Norte do Rodoanel, na Grande São Paulo, levou a empresa Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), controlada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), a ameaçar romper o contrato com o consórcio das empreiteiras Mendes Júnior/Isolux, ambas em processo de recuperação judicial. A medida atrasaria ainda mais a conclusão do anel viário ,adiada, de fevereiro deste ano, para março de 2018. Até agora, menos da metade (42%) foi feito. 

O consórcio foi notificado no dia 6 de maio pela Dersa logo após uma vistoria feita na parcela da Mendes/Isolux constatar “desmobilização de equipamentos e de mão de obra”. Na última quarta-feira (1), em carta enviada à estatal, as construtoras afirmaram que aguardavam para os próximos dias o pagamento referente à medição dos serviços feitos em abril e projetavam retomar a obra hoje. Segundo a Dersa, o pagamento dos R$ 6,3 milhões devidos seria feito na quita-feira (2) e está dentro do prazo.

Essa não foi a primeira vez que o consórcio responsável pelo lote 1 do Rodoanel, na região norte da Grande São Paulo, paralisou os serviços. De acordo com a companhia, no início de 2015, as empreiteiras que constroem os 6,4 quilômetros iniciais do trecho suspenderam os trabalhos por cerca de dois meses, regressando às operações somente após o carnaval. Apenas o contrato com a Mendes/Isolux é cotado em R$ 647,6 milhões. O custo atual da construção dos 47,6 quilômetros de pistas é de R$ 3,9 bilhões. 

A empresa de rodagens paulista já consultou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre como proceder em caso de rescisão contratual. A instituição, que financiou R$ 2 bilhões dos cerca de R$ 7 previstosos pelo empreendimento, incluindo projeto, reassentamento e desapropriações, apontou como soluções a recontratação do consórcio, que foi o segundo colocado na concorrência de 2012, ou fazer nova licitação, a exemplo do que aconteceu nas obras da Linha 4-Amarela do Metrô paulistâno.

“Pode acontecer (nova licitação) no Rodoanel. Estamos trabalhando duramente para que isso não aconteça”, disse o presidente da Dersa, Laurence Casagrande, que criticou o consórcio por divulgar a seus fornecedores que a estatal estaria pagando valores menores do que o devido. “Nós estamos em uma disputa acirrada. Mas, neste momento, a gente trabalha com a perspectiva de ter a retomada das obras e continuar com eles”, completou.

Em termos gerais, todos os trechos da construção viária estão em atraso e, apesar da paralisação das obras, o lote 1, que tem 38% do trecho executado, não é o que está mais distante da entrega pública. Segundo a Dersa, o lote 6, na região leste, com apenas 27% concluído, sofre com longas disputas judiciais nos processos de desapropriação que tramitam na Vara de Guarulhos. O Ministério Público Estadual (MPE) investiga a existência de uma máfia envolvendo advogados e peritos judiciais que teria provocado desvios de R$ 1,3 bilhão nas indenizações.

No lote 3, que tem 35% de execução, o desafio da construtora OAS é, segundo a gestora, escavar de um túnel de 1,7 quilômetro, túnel este que precisa ser concluído, até dezembro de 2017, para que não haja novos atrasos. Já no lote 5, da Construcap, um túnel desabado, em dezembro de 2014, continua soterrado e aguarda desapropriação de novas áreas para ser refeito.

Segundo a reportagem apurou, contudo, os consórcios reduziram o ritmo ou praticamente paralisaram as obras para pressionar a Dersa a assinar um aditivo contratual de reequilíbrio econômico-financeiro no valor de R$ 716 milhões. A decisão sobre o pleito das empreiteiras seria anunciada, em maio último, mas foi adiada por mais três meses, depois que a Polícia Federal abriu inquérito para investigar denúncias de superfaturamento de, pelo menos, R$ 170 milhões nos serviços de terraplenagem da obra. A empresa estima, porém, que o novo aditivo não ultrapasse os R$ 390 milhões, o que pode levar a Mendes Júnior e a OAS a abandonar as obras.

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