Conversas de paz terminam sem acordo na Irlanda do Norte

  • Por Agencia EFE
  • 02/01/2014 15h59

Dublin, 31 dez (EFE).- As conversas que o mediador dos Estados Unidos, Richard Haass, manteve em Belfast com os partidos da Irlanda do Norte para resolver assuntos conflituosos do processo de paz, como o caso das bandeiras e dos desfiles protestantes, terminaram nesta terça-feira sem um acordo.

Haass e os representantes dos cinco principais partidos norte-irlandeses mantiveram longas negociações que se estenderam por toda a madrugada e terminaram nesta manhã.

Ao término deste diálogo, o ex-diplomata americano admitiu que não tinha conseguido o consenso necessário sobre uma série de propostas destinadas a resolver as disputas.

Esses desacordos giram em torno das bandeiras que deverão ser hasteadas em edifícios públicos, as zonas por onde vão passar os tradicionais desfiles protestantes e o legado de 30 anos do conflito norte-irlandês que causou mais de 3,5 mil mortos.

O chamado Acordo da Sexta-Feira Santa foi assinado em Belfast no dia 10 de abril de 1998 e ajudou a pôr fim aos anos de violência sectária entre protestantes e católicos.

Em entrevista coletiva hoje, ao término das conversas, Haass disse que as partes tinham conseguido “importantes progressos”, mas que estes não foram suficientes para um acordo definitivo.

Segundo Haass, um grupo de trabalho integrado por representantes dos partidos será formado para tentar buscar uma forma de fazer mais progressos e superar as divergências.

“Esperamos que os partidos reflitam, avaliem (o documento) com sua liderança e depois voltem a apoiá-lo”, disse.

“Seria lindo se tivéssemos saído esta noite para dizer que os cinco partidos assinaram todo o texto, mas ainda não estamos (nessa situação)”, declarou o mediador.

Nas conversas multilaterais participaram o Partido Democrático Unionista (DUP), majoritário, e o Sinn Fein, antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) e principal representante da comunidade católica-nacionalista na região.

Completam o quinteto o Partido Unionista do Ulster (UUP), o Partido Social-Democrata e Trabalhista (SLDP, nacionalista moderado) e a Aliança, formada por membros de ambas as comunidades.

Haass – que foi encarregado como mediador há seis meses pelo ministro principal, o unionista democrático Peter Robinson, e o vice-ministro principal, o republicano Martin McGuinness – se mostrou otimista que no futuro os partidos aprovarão grande parte do conteúdo do texto.

Ao mesmo tempo, o mediador pediu que Robinson e McGuinness tornem públicos os detalhes do documento para que a população da Irlanda do Norte possa opinar sobre o seu conteúdo.

Haass acrescentou que as negociações serviram para “estabelecer os fundamentos” para futuros avanços.

O mediador manteve intensas negociações nos últimos meses, mas estas ficaram suspensas no dia 24, quando Haass retornou a seu país para passar o Natal.

No último sábado -dia 28- o ex-diplomata retornou a Belfast com a intenção de fechar ontem, segunda-feira, o acordo, mas as conversas se prolongaram durante toda a madrugada, até as 3h30 (de Brasília) de hoje.

Nos últimos meses, Haass manteve mais de 100 reuniões e conversou com mais de 500 pessoas durante um processo que incluiu, além de políticos, outros representantes da sociedade norte-irlandesa.

Segundo o mediador, mais de 600 propostas de “indivíduos e grupos” foram recebidas com ideias para resolver estas questões, que resultaram em episódios de violência nas ruas da província.

Assim aconteceu no verão durante a temporada de desfiles da ordem protestante de Orange e no início deste ano, quando centenas de policiais ficaram feridos nos enfrentamentos entre jovens protestantes e católicos pela retirada da bandeira britânica da Prefeitura de Belfast, que só é hasteada em dias determinados.

O maior perigo reside na radicalização da população, que pode servir como um incentivo para os dissidentes do já inativo IRA, capazes de intensificar nos últimos meses sua campanha armada e que, segundo a polícia, representam uma ameaça séria para a paz. EFE

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