Coral infantil cantará para o papa Francisco em prol da reconciliação bósnia

Tariq Jablic.

Srebrenica (Bósnia), 6 jun (EFE).- O coral infantil de Srebrenica, cidade que se tornou símbolo da tragédia na guerra da Bósnia, apresentará neste sábado, em Sarajevo, uma lição particular de tolerância e reconciliação ao papa Francisco.

As 40 crianças do coral “Superar”, formado por menores sérvios – cristão ortodoxos – e muçulmanos, todos de Srebrenica, cantarão em um encontro de jovens com o pontífice para enviar uma mensagem de paz e amor.

Um coral formado por meninos e meninas das duas principais comunidades de uma cidade pode parecer algo normal, mas qualquer um que conheça o passado negro de Srebrenica sabe que isso é um grande passo para a harmonia.

Em julho de 1995, pouco antes do fim da guerra na Bósnia (1992-1995), tropas sérvio-bósnias tomaram Srebrenica, até então protegida pela ONU, e mataram cerca de oito mil muçulmanos, cometendo o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Nenhuma das crianças do coral era nascida na época, mas esse massacre continua a prejudicar a convivência na cidade de 15 mil habitantes. No entanto, não há divisões entre as crianças quando cantam juntas, apenas harmonia.

O sérvio Ognjen Stevanovic, de 13 anos, disse à Agência Efe que é “uma grande honra” cantar para o papa porque “algumas crianças nunca têm a oportunidade de conhecer alguém tão importante durante a vida”.

O amigo de Stevanovic, o muçulmano Haris Mujic, de 12 anos, afirmou que não se sente nervoso, mas que se apresentará “para um homem muito conhecido, o mais importante da Igreja Católica”.

“Encaixamos muito bem em uma história de paz, amizade e unidade. Representamos o melhor da Bósnia-Herzegovina”, declarou com convicção o diretor do coral, Ismar Pobric.

As crianças se apresentarão perante o pontífice com a música “Love people”, do cantor bósnio Mirko Senkovski Geronimo.

O papa Francisco viajará neste sábado à capital bósnia em uma visita marcada para pedir a reconciliação após o conflito civil, a construção de um futuro comum e a importância do diálogo interreligioso.

Ao longo da visita, o papa se reunirá com o governo tripartite bósnio (um muçulmano, um sérvio e um croata), celebrará uma missa no estádio de Kosevo, terá uma reunião com sacerdotes, e participará de um encontro com representantes de todos os cultos de Sarajevo: muçulmano, ortodoxo, católico e judeu.

No dia 11 de julho serão lembrados os 20 anos do massacre de Srebrenica, do qual já foram identificadas mais de seis mil vítimas.

Cerca de 60% da cidade é habitada por muçulmanos e 40% por sérvios, mas as cicatrizes continuam aparentes e são poucos os exemplos de atividades comuns a ambos.

O coral e o modesto clube de futebol Guber estão entre os que estimulam a reconciliação e o companheirismo, e servem de exemplo para um futuro melhor.

“Superar” (www.suprer.eu) foi criado em 2009 com o apoio de patrocinadores austríacos e suíços, como o Erste Bank e a Fundação Hilti, que apoiam escolas de música em vários países, como Eslováquia, Romênia e Bósnia.

As atividades do coral de Srebrenica são realizadas na escola de música, dança e línguas, que tem cerca de 200 alunos, com idades de entre dois e 17 anos.

Com a canção “Love people”, o grupo lançou no ano passado uma campanha de ajuda aos desabrigados pelas tempestades que afetaram o país.

A pequena cidade de Srebrenica, situada na chamada República Sérvia da Bósnia, sofre os mesmos problemas que o restante do país: altas taxas de desemprego, pobreza, falta de perspectivas e bloqueio político e institucional. EFE

nh-sn/vnm/rsd