Curso treina soldados para retirar minas da Colômbia

  • Por Agencia EFE
  • 28/06/2015 10h24

Cynthia de Benito.

Base de Tolemaida (Colômbia), 28 jun (EFE).- Durante seis intensas semanas, os candidatos a “desminar” a Colômbia, por meio de um plano estipulado entre governo e as Farc, realizam em uma base militar um consciencioso treinamento que inclui teoria e prática para enfrentar uma tarefa marcada pela tensão.

A “desminagem humanitária”, que já começou através de um projeto piloto no município de Briceño, no departamento de Antioquia, exige o aumento do número de soldados dedicados a essa tarefa e, para isso, a Base de Tolemaida está há quatro meses em pleno funcionamento.

A instalação militar, a maior da Colômbia, está em uma sufocante região do departamento de Tolima (centro), e ali se graduaram nesse período 900 profissionais que agora se espalharão pelo país para tentar localizar as minas semeadas durante décadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Sua principal tarefa será a de realizar “estudos não técnicos”, ou seja, se aproximar das comunidades e perguntar aos moradores se ouviram alguma explosão ou se notaram indícios que alertem para a presença de artefatos, como animais mortos.

Assim delimitarão as áreas consideradas potencialmente perigosas que depois serão analisadas detalhemente; no entanto, sua formação neste vasto complexo, em que ao mesmo tempo os soldados se preparam para ir a combate, é completa e se desenvolve tanto nas salas de aula como em campo aberto.

“Nessas seis semanas a formação é metade teórica e metade prática. A parte teórica é o conhecimento do Padrão Internacional de Ação contra Minas (IMAS, na sigla em inglês) e o procedimento operacional, que é o padrão nacional. A parte prática são estudos técnicos e o despejo de áreas”, detalhou à Agência Efe o capitão Luis Fernando Serna.

Serna é comandante do grupo antiexplosivos em Tolemaida, onde treina os jovens que se apresentam a tão perigosa missão, na qual às vezes contam com experiência prévia como desminadores militares, que na Colômbia já são quase 9.000 soldados.

A diferença? A desminagem militar limpa apenas a área por onde passa a tropa, no meio de uma operação e com a tensão de que a guerrilha pode aparecer em qualquer momento. É preciso ser rápido e certeiro.

Já a desminagem humanitária pode levar anos e habitualmente é realizada em períodos de pós-conflito, exceto na Colômbia, onde enquanto em várias regiões a guerra continua, em outros lugares se trabalha aos poucos.

Por serem tarefas diferentes, a formação para cada uma muda, segundo Serna, embora em todos os casos os candidatos estudem a composição dos explosivos e os elementos que dão pistas sobre sua localização, como terreno removido ou cabos semiocultos.

Em qualquer caso, o tempo de treinamento foi consideravelmente reduzido. O desminador Luis Fernando Roa Urrego, experiente em vários terrenos da Colômbia, conta que há uma década demorou quatro anos para se formar.

“Estou há dez anos trabalhando. Dediquei muito tempo e dei duro. Eu gostaria que todo mundo nos admirasse por ver este trabalho tão complicado e enfrentar dia após dia um campo minado”, afirmou emocionado.

Em sua “especializada” formação, Roa foi capacitado por especialistas de Brasil, Trinidad e Tobago e Nicarágua, que lhe ensinaram a se adaptar a um terreno versátil no qual “as minas mudam” com o tempo.

Também foi ampliando conhecimentos em comunicações, demolições e aprendeu a “abrir uma brecha”, para que seus companheiros passassem, com a desminagem militar.

Hoje, após inumeráveis jornadas de tensão em condições adversas, Roa põe o traje protetor com facilidade e mostra em Tolemaida seus conhecimentos, que exigem nervos de aço para dominar a tensão diária que representa este trabalho que, apesar de tudo, o enche de satisfação.

“É um trabalho muito lindo, um trabalho ao qual é preciso dedicar muito tempo, muita humanidade como pessoa. As pessoas são muito agradáveis porque sabem que o que despejamos são campos minados, escolas, lugares por onde não podem passar… e o povo retorna a sua terra muito agradecido com o trabalho humanitário”, comentou. EFE

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