Delator relata almoço com Gim e Vital do Rêgo para poupar empreiteiras
Senadores Gleisi Hoffmann
Gleisi HoffmannGustavo Barreto, um dos executivos da Andrade Gutierrez que fecharam delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, relatou um almoço, em junho de 2014, na casa do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), com a presença do então senador do PMDB da Paraíba Vital do Rêgo, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para “não prejudicar as empreiteiras”.
O encontro, segundo os investigadores, tinha como objetivo acertar esquema de cobrança de propina para livrar empreiteiros de convocações das CPIs do Senado e mista (Senado e Câmara dos Deputados) da Petrobras. Vital do Rêgo era presidente da CPI Mista da Petrobras e Argello, membro da CPI do Senado e vice-presidente da CPMI. Teriam participado do encontro ainda Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, e José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e Roberto Zardi, estes da OAS.
As informações constam de nova denúncia contra o ex-senador Gim Argello, preso em abril pela Lava Jato.
“Como relatado por Gustavo Barreto, executivo da Andrade Gutierres, foi efetuado um almoço na residência de Gim Argello, com a presença de Cláudio Melo Filho, representando a Odebrecht, em meados de junho de 2014, no qual foram tratadas questões relacionadas à CPI do Senado e CPI Mista por parte do parlamentar, que salientou que a ideia não era prejudicar as companhias mais presentes no cartel de obras governamentais. Nesse almoço estavam também presentes os mesmos Léo Pinheiro e Roberto Zardi, da OAS, e o próprio Vital do Rêgo”, aponta denúncia contra Gim Argello e mais nove investigados, entre eles o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht, preso em junho do ano passado.
Como ministro do TCU, Vital do Rêgo tem direito a foro privilegiado. O ex-senador peemedebista é alvo de pedido de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A solicitação de inquérito tem como base a delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).
Ex-líder do governo, Delcídio afirmou que Vital do Rêgo, entre outros, “cobrava pedágios” para não convocar e “evitar” maiores investigações sobre “Léo Pinheiro, Julio Camargo e Ricardo Pessoa”.
Julio Camargo era lobista de multinacionais junto à Petrobras. Ricardo Pessoa era presidente da UTC Engenharia e, segundo as investigações, presidiu o club vip do cartel das empreiteiras que se instalaram na Petrobras.
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que investiga a participação de Gim no esquema, afirma que, entre abril e maio de 2014, ele fez “diversos contatos” com Cláudio Melo Filho, funcionário do Grupo Odebrecht, e cobrou “pagamento de vantagem indevida no valor de R$ 5 milhões, a fim de tutelar interesses próprios e de executivos do Grupo Odebrecht, no sentido de evitar a convocação de empresários desse Grupo para depor na CPI do Senado e na CPI Mista”.
“Por sua vez, Cláudio Melo Filho, com a chancela e a autorização de Marcelo Bahia Odebrecht, com o intuito de zelar pelos executivos do Grupo Odebrecht para que não fossem convocados a depor no Parlamento, ofereceu e prometeu o pagamento da vantagem indevida no valor de R$ 5 milhões a Gim Argello, promessa que ficou imediatamente aceita pelo então senador”, sustentam os procuradores.
O Ministério Público Federal identificou “vários contatos telefônicos” mantidos entre Cláudio Melo Filho e Gim Argello nos dias 19 de abril de 2014, 22 de abril de 2014, 5 de junho de 14, 24 de junho de 2014, 9 de julho de 2014, 18 de julho de 2014, 21 de agosto de 2014, 8 e 11 de setembro de 2014, “época em que já estavam estabelecidas as Comissões Parlamentares de Inquérito”.
“A importância de Cláudio Melo Filho no âmbito do Grupo Odebrecht e, mais ainda, a proximidade e a relação de confiança que se estabelece entre ele e Marcelo Odebrecht pode ser depreendida não apenas em decorrência de ser aquele o suplente desse em diversos Conselhos de Administração no âmbito do Grupo Odebrecht, mas ainda do teor dos e-mails apreendidos na sede da empreiteira”, afirma a força-tarefa.
A reportagem procurou o ministro Vital do Rêgo, por meio do TCU, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. A OAS, a Odebrecht e a UTC não comentarão o assunto.
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