Ebola obriga mudança de costumes tradicionais no Mali
Idrissa Diakité.
Bamaco, 30 out (EFE). – A morte de uma menina de dois anos na sexta-feira passada contaminada pelo vírus do ebola gerou o pânico entre a população do Mali e começa a influenciar nos costumes tradicionais.
“Para um país com uma forte tradição oral e de festas familiares, se impõe uma mudança de comportamento em tempos de epidemias”, explicou à Agência Efe o médico malinês, Abdoulaye Diallo.
Desde que a morte da criança se tornou conhecida, muitos são os malineses que por precaução já não lavam as mãos no mesmo recipiente, não comem em grupo e no mesmo prato, evitam que as crianças brinquem juntas na rua e modificam rituais funerários.
A inquietação provocada pelo alcance do vírus, alimentada nas redes sociais e pela precariedade dos serviços de higiene públicos e a falta de infraestruturas sanitárias, levou, inclusive, alguns malineses a não se cumprimentarem mais apertando as mãos.
E se existe carência de infraestruturas também existe carência de médicos perante este tipo de caso.
“Os médicos e seus assistentes não estavam preparados para receber um caso de ebola”, contou uma fonte do hospital de Kayes, no oeste do Mali, onde a menina se hospitalizou.
Já uma testemunha, que pediu anonimato, garantiu que a falta de comunicação sobre o que estava acontecendo provocou uma situação de histeria no centro médico e vários pacientes tentaram fugir.
A menina morava na Guiné e foi lá onde contraiu a doença, mas após o falecimento de seu pai e de sua avó paterna em circunstâncias desconhecidas, já que a autópsia não foi feita, a família enviou criança ao Mali acompanhada de sua avó materna. Após sua morte, os cidadãos tiveram especialmente cuidado nas regiões por onde a menina passou em sua viagem de Conacri a Kayes, a 500 quilômetros ao oeste de Bamaco, já que as consideram lugares com maior possibilidade de possíveis contágios.
Segundo Gabriel Touré, funcionário do setor de limpeza em um hospital de Bamaco, “os caçadores de ouro já não se aproximam da fronteira entre Mali e Guiné e quando chega um doente desta zona os médicos desconfiam”.
Vários cidadãos criticam a falta de informação sobre o vírus e o fato de o pouco que se sabe não ser transmitido nos diferentes idiomas do país, por isso propõem que para chegar à população o Ministério da Saúde se apoie nos pregoeiros e nos chefes das tribos. Por enquanto, o governo tomou todas as medidas a seu alcance para evitar a propagação do vírus e lançou uma campanha informativa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 82 pessoas estão em observação no Mali por terem estado em contato com a menina, embora, por enquanto, não tenham sido detectados sintomas do vírus nelas.
Um grupo de especialistas da OMS está no Mali para ajudar nas tarefas de detecção e controle de eventuais contatos do ebola, um vírus que já causou quase cinco mil mortes e infectou 13.700. EFE
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