Ata do Copom defende período prolongado de juros elevados para combater pressões inflacionárias

Grupo indicou a necessidade de um aperto de condições financeiras por mais tempo para que seja possível diminuir a inflação de forma duradoura; arcabouço fiscal sólido pode levar a um processo desinflacionário mais benigno, segundo comitê

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2023 11h38 - Atualizado em 28/03/2023 17h21
Adriano Machado/Reuters Homem passa em frente ao prédio do Banco Central em Brasília Na semana passada, o Copom decidiu, de forma unânime, manter a Selic em 13,75%, maior patamar desde 2016

Nesta terça-feira, 28, o Banco Central divulgou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocasião em que o colegiado decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Segundo o documento, o grupo avaliou que o cenário se encontra ‘ainda mais desafiador para a condução da política monetária, com aumento dos riscos tanto em torno do cenário inflacionário quanto em relação à estabilidade financeira’. Segundo a visão dos membros do comitê, o contexto global pede que países emergentes adotem um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias. “A redução das pressões inflacionárias continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através de um aperto de condições financeiras mais prolongado. Tal determinação, ainda que com possível impacto sobre preços de ativos no curto prazo, contribui para um processo desinflacionário global mais crível e duradouro”, ponderou o grupo. Além disso, a ata afirma que a melhor contribuição da política monetária segue sendo no combate a pressões inflacionárias e na suavização de flutuações econômicas.

A nova âncora fiscal também foi um dos focos da discussão do Copom, que avaliou que “o efeito líquido da condução da política fiscal sobre a inflação é muito dependente das condições macroeconômicas e financeiras vigentes. O Comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo. Ademais, o Comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo Governo e votado no Congresso. (…) O Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos”, declarou o comitê.

O grupo também ponderou que o ambiente externo se deteriorou, citando a crise bancária internacional desencadeada por bancos nos Estados Unidos e na Europa. Para países emergentes, o comitê avalia que o cenário demonstra a necessidade de período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias. “O processo de normalização da política monetária prossegue na direção de taxas restritivas de forma sincronizada entre países. Em várias economias emergentes, os ciclos de aperto chegam a uma pausa ou sugerem proximidade de seu fim. De toda forma, a sinalização majoritária entre as autoridades monetárias é de um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias, o que requer maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de países emergentes”, escrevera os membros do Copom. O grupo também avaliou a possibilidade de incorporar alguma elevação em sua estimativa de taxa neutra de juros. “A taxa neutra real de juros é aquela em que, na ausência de impacto de outros fatores, a taxa de inflação permanece estável e o produto cresce de acordo com seu potencial, refletindo os ganhos de produtividade e mudanças nos fundamentos estruturais da economia. O Comitê optou, neste momento, por manter a taxa neutra de juros em 4%, mas avaliou cenários alternativos e identificou que os impactos de uma elevação da taxa neutra sobre suas projeções crescem no tempo e passam a ser mais relevantes a partir do segundo semestre de 2024”, pontuou.

Mestre em economia e consultor econômico da Remessa Online, André Galhardo observa que, apesar da indicação de um possível aumento da taxa de juros, é improvável que o Copom adote esta estratégia na prática. “O comitê avaliou que um novo ciclo de alta de juros pode vir à tona se o processo de desinflação não transcorrer como o esperado, mas na nossa visão essa é uma afirmação meramente retórica, uma vez que não existem muitos caminhos disponíveis para um país em que a taxa real de juros já é a mais alta do mundo. Do lado da atividade econômica, as primeiras sondagens relativas ao mês de março mostram continuidade do processo de acomodação da economia doméstica, em linha com o que era esperado, considerando, entre outros fatores, a própria taxa de juros restritiva. No que diz respeito ao mercado de câmbio, a tendência do dia é de valorização do real, considerando uma melhora (relativa) da condição do setor bancário na Europa e nos Estados Unidos”, considera.

Já de acordo com Raphael Vieira, co-head de investimentos da Arton Advisors, a ata do Copom reafirmou o tom do comunicado da semana passada, trazendo a mensagem de paciência e manutenção dos juros por enquanto. “Então, o Copom não dá uma sinalização de possível corte na próxima reunião. Hoje, o mercado está tirando isso do preço. “A taxa de juros precificada nos contratos de DI curto e médio estavam subindo por volta de 10/15 basis points, muito em linha com a ata do Copom. Isso mostra que, por mais que a atacite o novo arcabouço fiscal e a reoneração dos combustíveis, dando um alívio nas contas públicas, ainda é algo que não traz certeza de um eventual corte de juros”, indica.

 

 

 

 

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