Banco Central busca ganhar tempo para que alta dos juros não sacrifique a economia em 2022

BC eleva a Selic para 6,25% ao ano e sinaliza repetir a dose de 1 ponto percentual no próximo encontro; mercado financeiro projeta taxa a 8,25% em 2021

  • Por Gabriel Bosa
  • 22/09/2021 20h39 - Atualizado em 22/09/2021 21h15
Marcello Casal Jr./Agência Brasil Imagem aérea da sede do Banco Central Colegiado do Banco Central volta a se reunir em outubro com a indicação de acrescentar mais 1 ponto percentual na Selic

O acúmulo de incertezas no campo inflacionário e na política fiscal pressionam o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa na elevação dos juros. Se por um lado a escalada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para quase dois dígitos já contamina as expectativas para 2022 e demanda uma resposta agressiva, uma elevação tempestiva da Selic para muito além do patamar neutro fragiliza a recuperação das atividades. O avanço da taxa a 6,25% ao ano com o acréscimo de 1 ponto percentual — e a sinalização de novo aumento de mesma magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) —, indicam que a autoridade monetária busca ganhar tempo para observar até que ponto os choques de preços e as incertezas com as contas públicas demandarão esforços para convergir a inflação ao centro da meta nos próximos anos. “Embora ele expresse um tom otimista sobre a robustez do crescimento econômico no segundo semestre, ao mesmo tempo, coloca a preocupação em acompanhar o que vai acontecer com os indicadores”, afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi).

O mercado estima que a Selic vá encerrar 2021 a 8,25%, esperando novas altas de 1 ponto percentual nos dois últimos encontros do Copom neste ano. Em nota, a autoridade monetária afirmou que o reajuste leva os juros para o campo contracionista, ou seja, cria dificuldade para as atividades econômicas, mas que o aperto monetário é apropriado diante do cenário e balanço de riscos. Para Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos, o BC adotou um ritmo que evita trazer um peso excessivo sobre a recuperação da economia. “O Banco Central está tentando balancear. Ele não quer repetir essa alta da inflação no ano que vem, mas também não quer que ela fique muito embaixo da meta e que a Selic se torne uma taxa de sacrifício”, afirma. Os impactos da elevação da Selic na atividade econômica já se refletem nas expectativas do mercado financeiro. Depois de estimar uma alta de até 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, as previsões do Boletim Focus rebaixaram o crescimento para próximo de 1,6%, enquanto opiniões mais pessimistas enxergam avanço perto 1%. “A expectativa de juros maior gera projeção de uma atividade econômica menor. O processo de revisão do PIB do ano que vem já embute essa revisão de Selic para cima”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

É esperado que parte das pressões sobre o IPCA se dissipem no ano que vem, principalmente a alta de commodities alimentícias e a normalização do clima. Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, apesar dessa expectativa de alívio, o BC deveria expor uma visão mais agressiva por não poder contar com a política fiscal para controlar a variação de preços. “Vai chegar uma inflação de 10% em setembro, ou algo bastante próximo de dois dígitos, e ele vai estar sozinho. O cenário político não está ajudando”, afirma. Entre essas pressões políticas, se destacam as incertezas com a resolução dos precatórios e o financiamento do novo programa social projetado para substituir o Bolsa Família. “Precisa ser mais agressivo no curto prazo para passar um recado positivo ao mercado e ajudar a manter as expectativas baixas. O Banco Central tem credibilidade, o governo não.”

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