BC: balanço de risco prescreve manutenção da Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reafirmou nesta terça-feira, 7, na ata do encontro da semana passada, que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Esta ideia já constou no comunicado do encontro da semana passada do Copom, quando a Selic (a taxa básica de juros) permaneceu em 6,50% ao ano. Foi o terceiro encontro consecutivo em que a taxa foi mantida neste patamar. “Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente”, disse o colegiado na ata, ao tratar de sua decisão.
BC divulga Ata da 216ª reunião do #Copom: https://t.co/W6GbokpaYo pic.twitter.com/FtpY4WAS3O
— Banco Central BR (@BancoCentralBR) August 7, 2018
Ao se referir aos choques recentes sobre a inflação, provocados pela greve dos caminhoneiros e pela alta do dólar ante o real, o colegiado afirmou que os efeitos “estão se revelando temporários, mas é importante acompanhar ao longo do tempo o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene de choques sobre a inflação (isto é, seus efeitos secundários)”.
O Copom afirmou ainda que entende que “deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica”. “Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”, acrescentou o BC, em referência aos impactos trazidos pelo choque cambial recente. Os efeitos secundários dizem respeito à propagação do choque a preços da economia não diretamente afetados pelo choque.
A comentarista Denise Campos de Toledo, no Jornal da Manhã, analisou os principais dados da ata do Copom. Veja:
“É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos”, disse o BC na ata. “Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária ”
Em outro trecho da ata, o BC voltou a defender a continuidade do processo de reformas e ajustes na economia brasileira, visto como “essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
Ao mesmo tempo, o BC repetiu na ata uma ideia acrescentada no último comunicado do Copom. Sem citar diretamente o debate eleitoral, a instituição alertou que “a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”.
Além disso, como tem feito em suas comunicações oficiais nos últimos meses, o Copom reiterou que a conjuntura econômica “prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.
De acordo com o BC, a decisão de manter a Selic em 6,50% ao ano na semana passada “reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019”.
Projeção de reajustes de administrados em 2019
O Banco Central manteve suas projeções para a alta dos preços administrados em 2018, mas ajustou as expectativas para 2019, conforme a ata do Copom. Para este ano, o índice calculado seguiu em 7,2% no cenário de mercado. No caso do próximo ano, o porcentual foi de 4,6% para 4,8%. As estimativas anteriores constavam na ata do encontro de junho do Copom.
No caso do cenário de referência, que utiliza como parâmetros câmbio constante a R$ 3,75 e juros constantes a 6,50% ao ano, a projeção para a alta dos preços administrados em 2018 seguiu em 7,4%. No caso de 2019, foi de 4,8% para 5,0%.
Na segunda-feira, o Relatório de Mercado Focus indicou que a estimativa para 2018 no mercado financeiro é de elevação de 7,00% dos administrados. Para 2019, a expectativa está em 4,50%
As projeções para os preços administrados ajudaram a formar a base para que o colegiado mantivesse na semana passada a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano. Foi o terceiro encontro consecutivo em que o colegiado não alterou a taxa básica.
IPCA 2018
A ata indicou que a projeção para o IPCA de 2018 no cenário de referência está em 4,2%. Já a projeção para 2019 é de 4,1%.
Estes são os mesmos valores citados no comunicado que acompanhou a decisão do colegiado, na semana passada, quando a Selic (a taxa básica de juros) foi mantida em 6,50% ao ano pela terceira vez consecutiva. Na ata do encontro anterior do Copom, ocorrido em junho, as projeções do cenário de referência também estavam em 4,2% para 2018 e 4,1% para 2019.
O BC formulou seu cenário de referência tendo como referência a Selic constante em 6,50% ao ano e uma taxa de câmbio de R$ 3,75. Este valor para o câmbio teve como base a cotação média para a moeda americana observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom (27 de julho).
Na ata desta terça, o BC indicou ainda que a projeção para o IPCA de 2018 no cenário de mercado está em 4,2%. A projeção para 2019 é de 3,8%. Estes também são os mesmos valores citados no comunicado que acompanhou a decisão do colegiado, na semana passada. O cenário de mercado utiliza como referência as projeções do Relatório de Mercado Focus para a Selic e o câmbio. Na ata de junho, as projeções do cenário de mercado estavam em 4,2% para 2018 e 3,7% para 2019.
Desde fevereiro do ano passado, o BC vinha dando maior ênfase ao cenário de mercado, em detrimento do cenário de referência. Na época, o BC alegou que, como a Selic estava em processo de baixa, o cenário com taxa constante perdia relevância. Porém, a partir de maio deste ano, com a Selic estável, o cenário de referência voltou a ganhar destaque nas comunicações do BC.
O centro da meta de inflação perseguida pela instituição este ano é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3,0% e 6,0%). No caso de 2019, a meta é de 4,25%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 2,75% a 5,75%).
No Relatório de Mercado Focus publicado na segunda-feira, as instituições financeiras projetaram inflação de 4,11% em 2018 e 4,10% em 2019.
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