Bolsa fecha ano com queda de 12% no acumulado, enquanto dólar sobe 7%
Instabilidade política e risco fiscal fizeram com que o Brasil se tornasse menos atrativo; câmbio registra quinto ano seguido de desvalorização, enquanto Bolsa fecha no vermelho pela primeira vez desde 2015
No último dia de pregão da Bolsa de Valores de São Paulo em 2021, o Ibovespa teve aumento de 0,7%, aos 104.822 pontos, acompanhando os principais mercados internacionais — os índices também subiram na Europa e nos Estados Unidos, embora com avanços mais tímidos. O cenário interno pode explicar a situação, graças ao resultado consolidado do setor público, que teve superávit de R$ 15 bilhões no ano, considerando-se o governo federal e os estaduais em conjunto. O dólar teve forte queda, de 2,33%, e fechou a R$ 5,570. Os números desta quinta, 30, porém, contrariam o que se viu ao longo dos últimos meses, que teve forte queda da Bolsa e o real perdendo ainda mais valor frente à moeda norte-americana. Em 2021, o câmbio acumulou desvalorização de 7,3% — o quinto ano consecutivo de retração. Em 2020, o tombo foi de 29,3% em meio aos reflexos da pandemia da Covid-19. A última vez que o real fechou em alta contra a moeda norte-americana foi em 2016, com avanço de 17,8%. Já o Ibovespa fechou 2021 com recuo de 12%, o primeiro resultado negativo desde 2015. Em 2020, o pregão acumulou valorização de 3%.
O Ibovespa teve um primeiro semestre positivo, saindo de 118.854,71 pontos no primeiro dia de janeiro e chegando a 130.776,27 em 7 de junho, com os dados da retomada econômica após a pandemia animando os investidores. Contudo, ainda naquele mês, a instabilidade política no país começou a ter efeito e fez com que o índice fechasse o primeiro semestre aos 126.801 pontos, queda que se manteve praticamente constante ao longo dos meses seguintes, até chegar a 100.774,57 em 1º de dezembro. As discussões sobre a PEC dos Precatórios e o teto de gastos, que permitiriam ao governo financiar o novo programa social Auxílio Brasil, também interferiram com o medo de que o país cometesse um calote ao não pagar as dívidas reconhecidas na Justiça em 2022. O aumento da inflação e dos juros dificultaram a situação para a Bolsa, tornando outros tipos de investimentos mais atraentes. Também ocorreram choques na economia brasileira, como a crise hídrica, que levou ao aumento no custo da energia, e a queda do setor agrícola no terceiro semestre, que travou a retomada.
Em relação ao dólar, o mercado brasileiro se tornou menos atraente para o investidor externo por conta das turbulências políticas e incertezas, prejudicando a entrada da moeda no país e refletindo na sua valorização ante o real. Depois de começar o ano cotado a R$ 5,19, o câmbio chegou a bater a máxima de R$ 5,797 em 9 de março com os investidores repercutindo a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em anular as acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato, tornando o petista novamente elegível. A divisa seguiu em trajetória de queda nos meses seguintes, chegando a ficar abaixo de R$ 5 entre os dias 22 e 30 de junho — alcançando a mínima de R$ 4,913 no dia 24.
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