Com descontos menos agressivos, Black Friday tem vendas alavancadas pelo online

Medidas restritivas causadas pela Covid-19 diminuíram o movimento nas lojas físicas; para especialistas, promoções foram menores devido à alta do dólar e estoque mais baixo das lojas

  • Por Carolina Fortes
  • 27/11/2020 20h55 - Atualizado em 27/11/2020 21h07
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO DF - BLACK-FRIDAY-MOVIMENTAÇÃO-COMÉRCIO - GERAL Segundo dados da ABComm, até às 20h desta sexta-feira, 27, já haviam sido vendidos mais de R$ 4,1 bilhões no comércio online

O isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 modificou a forma de consumo das pessoas em 2020. Na Black Friday deste ano, não houve os relatos costumeiros de grandes filas e aglomerações em busca dos melhores descontos. No entanto, no comércio online, o faturamento já era superior ao registrado no ano anterior, mesmo antes do fim do evento. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABComm), até às 20h desta sexta-feira, 27, já haviam sido vendidos mais de R$ 4,3 bilhões, em comparação a R$ 3,2 bilhões durante todo o evento em 2019. Para especialistas ouvidos pela Jovem Pan, além do crescimento nas vendas digitais, o que já era uma expectativa para o setor, uma das principais diferenças foram os descontos, bem menos agressivos em 2020. “Esse ano não se repetiram as promoções historicamente agressivas do evento. Pelo que eu estou acompanhando, os descontos ficaram em cerca de 10%. O varejo ensinou o consumidor a esperar pelo desconto da Black Friday, e esse ano eles tinham menos dinheiro, mas o varejo e a indústria não tiveram como oferecer grandes promoções, por causa da alta do dólar, aumento dos preço dos componentes que montam os aparelhos, entre outras razões”, afirma Fernando Baialuna, diretor de varejo da GfK Brasil.

De acordo com Guilherme Minuzzi, porta-voz da Bling, startup de gerenciamento ERP para MEIs e PMEs, quase 70% das indústrias estão com dificuldades de recebimento de matéria-prima, além de muitos lojistas terem visto os seus estoques reduzidos, o que pressionou os preços para cima, e os descontos para baixo. “O grande fator de competição neste ano na Black Friday é a disponibilidade de estoque, e não necessariamente os descontos agressivos”, diz. Para os especialistas, este panorama também criou uma vantagem maior das varejistas nacionais sobre as regionais e os pequenos produtores. Na avaliação de Baialuna, além das empresas maiores possuírem uma estrutura online mais aprimorada, tem maior poder de negociação, ou seja, conseguem oferecer preços menores. O porta-voz da Bling aponta, ainda, outras duas mudanças de comportamento dos clientes. Segundo ele, as compras por impulso saíram de cena, e os consumidores preferiram optar por produtos que estivessem realmente precisando, como eletrodomésticos e eletrônicos. Além disso, aproveitaram para antecipar as compras das festas de final de Ano. O diretor de varejo da GfK, Fernando Baialuna, explica que isso já é uma tendência na Black Friday, mas que se intensificou em 2020, por razões como a iminência de uma segunda onda da Covid-19 e o fim do auxílio emergencial, que termina agora em dezembro. 

Compras online

Dados obtidos pela Jovem Pan junto à GfK Brasil, que recebe números semanais das grandes cadeias do setor, mostram que, na primeira semana de novembro, as vendas do varejo cresceram 12% em relação a 2019, sendo 56% no online – e uma diminuição de 7% nas lojas físicas. Já na segunda semana do mês, o aumento foi de 38%, sendo 97% no online e 12% no físico. Nos meses de setembro e outubro, por sua vez, as altas eram de cerca de 40% e 30%, respectivamente. Esses números mostram que, para os varejistas, a Black Friday começou bem antes desta sexta-feira, 27. “O consumidor aprendeu a comprar online, ele foi obrigado a fazer isso com a pandemia. Além disso, várias pessoas, como os idosos, acabaram sendo incluídas no mundo das compras digitais, o que influenciou a forma de consumir”, explica Baialuna. Segundo ele, atualmente, 20% das jornadas de compra são físicas, e 80% online. Já de acordo com Minuzzi, desde o início do isolamento social, as empresas integradas ao Bling têm emitido cerca de duas milhões de notas fiscais por semana – em 2019, eram duas milhões no ano todo. Além da maior adesão dos consumidores às compras digitais – durante o primeiro semestre de 2020, cerca de 7,3 milhões de pessoas fizeram sua primeira compra online, segundo pesquisa da Ebit/Nielsen – mais empresas também foram obrigadas a aderir ao mundo digital, devido às restrições impostas pelo coronavírus. “O aumento do e-commerce não foi uma situação de mercado, foi uma obrigação do consumidor e do lojista, pelo fato de estar tudo fechado e eles praticamente só encontrarem o e-commerce como canal de vendas disponível”, finaliza. 

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