Copom ignora pressão do governo por queda dos juros e mantém Selic em 13,75% pela 6ª vez consecutiva

Mesmo com publicação do novo arcabouço fiscal, comitê afirma que inflação ao consumidor segue acima da meta e demanda monitoramento

  • Por Jovem Pan
  • 03/05/2023 18h51 - Atualizado em 03/05/2023 19h47
Marcello Casal Jr./Agência Brasil Fachada do Banco Central com uma mulher de camiseta amarela e calça jeans passando em frente Previsão de economistas é de que BC inicie redução da Selic apenas no segundo semestre

Pela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, maior patamar desde 2016. A decisão do colegiado ocorreu de forma unânime, nesta quarta-feira, 3, mesmo com a frequente pressão que tem sido feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por aliados, que cobram cortes na taxa e criticam os efeitos dos juros sobre atividade econômica. Desde a última reunião, finalizada em 22 de março, ocorreram mudanças no cenário econômico que animaram os governistas, entre eles a apresentação do novo arcabouço fiscal. O comitê havia sinalizado anteriormente a possibilidade de uma nova alta na Selic, mas o Palácio do Planalto bate na tecla que a inflação abaixo do esperado poderia incentivar até mesmo uma queda. Contudo, a expectativa do mercado já era da manutenção da taxa de juros, uma vez que não houve grandes alterações no contexto nacional e internacional que justificassem uma mudança na política monetária.

Na decisão, o comitê afirmou que o ambiente externo se mantém adverso e que inflação alta para o consumidor demanda atenção. “Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, afirma o grupo.

O comitê ainda cita que a reoneração dos combustíveis e a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. “Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, complementa. O grupo ainda enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

O presidente e parlamentares têm criticado de forma consistente a condução da política monetária, que pressionam Roberto Campos Neto para reduzir a Selic. “Não podemos mais viver em um país onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla na verdade o desemprego porque ela é responsável por uma parte da situação que nós vivemos hoje”, afirmou Lula em evento realizado em 1º de Maio. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) também fez recentemente um apelo público a Campos Neto em favor da redução “imediata” dos juros. “A inflação, meu caro Roberto Campos Netto, contida. Nossa moeda estável. Agora, nós precisamos crescer o Brasil. E nós não conseguiremos crescer o Brasil com a taxa de juros a 13%”, argumentou Pacheco. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu que o Banco Central possui uma “janela de oportunidade” para reduzir a taxa básica de juros, citando a inflação de março, abaixo do esperado, e a valorização do real frente ao dólar como indicativos positivos para que a autoridade monetária reduza a Selic. “Tudo está convergindo para aquilo que eu chamo de harmonizar o fiscal com o monetário. Tudo está convergindo nessa direção. Veja aí os efeitos da queda da inflação, o câmbio, o real mais valorizado, as variáveis se estabilizando, a curva de juros futuro caindo. Enfim, há sinais evidentes”, afirmou. Já Campos Neto tem defendido as decisões do órgão. “Juros são altos por recuperação de crédito baixa, endividamento alto e baixa poupança. Volume de crédito direcionado é alto, é como uma tubulação entupida”, exemplificou. Campos Neto também repetiu falas anteriores de que é preciso baixar os juros com credibilidade. “Para gerar liquidez, Selic precisa ser conduzida com credibilidade”, reforçou.

 

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