Dólar recua à espera de decisão dos juros nos EUA e com ata do Copom; Bolsa sobe
Fed deve anunciar redução de estímulos à economia em meio ao crescimento da inflação norte-americana; mercado também acompanha desdobramentos para a votação da PEC dos Precatórios
Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro operam nesta quarta-feira, 3, reagindo ao anúncio de que o Banco Central (BC) cogitou acelerar ainda mais os juros na reunião da semana passada e à espera da definição da política monetária pelo BC dos Estados Unidos (Fed, na sigla em inglês). Após ficar sem direção definida na maior parte da manhã, por volta das 12h45, o dólar operava com queda de 0,33%, a R$ 5,651. O câmbio chegou a bater a máxima de R$ 5,699, enquanto a mínima não passou de R$ 5,647. O Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, seguia o clima misto dos mercados globais e registrava retração de 0,88%, aos 106.481 pontos.
A autoridade monetária norte-americana deve divulgar nesta tarde a redução de estímulos à economia em meio ao avanço da inflação doméstica. O mercado espera que o Fed anuncie o corte da compra de títulos públicos, atualmente em US$ 120 bilhões ao mês. O BC, no entanto, não deve fazer mudanças nos juros, que hoje estão em taxas mínimas. A mudança na estratégia monetária ocorre em meio ao avanço da variação de preços, puxado principalmente pelo encarecimento dos alimentos e dos combustíveis. Ainda na pauta de juros, mas da realidade brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) cogitou um aumento maior do que o de 1,5 ponto percentual aplicado na semana passada, que elevou a Selic a 7,75% ao ano. Em ata divulgada nesta manhã, a autoridade monetária confirmou que deve fazer novo ajuste de mesma magnitude no encontro de dezembro, o último de 2021, elevando a taxa básica de juros a 9,25% ao ano.
A alta de 1,5 ponto percentual veio em linha ao esperado pelo mercado financeiro após o agravamento do risco de irresponsabilidade dos gastos públicos com a tratativa do governo federal e do Congresso em mudar as regras do teto de gastos, a principal âncora fiscal da economia brasileira. O movimento teve forte reação negativa no mercado financeiro, que levou o dólar para os patamares mais elevados em seis meses, enquanto o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, reduziu para a pior pontuação em quase um ano. O colegiado observou que “recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação”, e isso pode levar à “cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas”. “O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”
Ainda na pauta doméstica, investidores seguem acompanhando as tratativas em Brasília para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. O texto deveria ter sido votado na semana passada, mas foi adiada duas vezes. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), fechou acordo com lideranças para colocar a medida em pauta na sessão de hoje, mas ainda enfrenta resistência de parlamentares da oposição e até da base aliada do governo. Os impasses para a votação da medida levaram o Executivo a estudar a prorrogação do auxílio emergencial com a declaração de um novo estado de calamidade pública. O movimento é rechaçado pela equipe econômica. Segundo os técnicos do Tesouro, o Ministério da Economia trabalha apenas com a possibilidade de aprovação da medida pelo Congresso. O apoio do governo à PEC repercutiu de forma negativa no mercado financeiro e refletiu na deterioração das perspectivas para a economia em 2022.
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