BC cogitou alta acima de 1,5 ponto na Selic e confirma novo aumento na próxima reunião
Colegiado levou a taxa a 7,75% ao ano na semana passada; elevação dos juros visa a convergência da inflação para a meta em 2022
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cogitou acrescentar mais de 1,5 ponto percentual na Selic na reunião de quarta-feira, 27, e confirmou que vai manter a mesma dose no encontro agendado para dezembro, o último deste ano, encerrando a taxa básica de juros da economia brasileira a 9,25%. As informações constam na ata da 242ª reunião do colegiado, divulgada nesta quarta-feira, 3. A autoridade monetária afirmou que o movimento visa a convergência da inflação para a meta em 2022. “O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista”, informou a autoridade monetária.
A alta de 1,5 ponto percentual veio em linha ao esperado pelo mercado financeiro após o agravamento do risco de irresponsabilidade dos gastos públicos com a tratativa do governo federal e do Congresso em mudar as regras do teto de gastos, a principal âncora fiscal da economia brasileira. O movimento teve forte reação negativa no mercado financeiro, que levou o dólar para os patamares mais elevados em seis meses, enquanto o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, reduziu para a pior pontuação em quase um ano. O colegiado observou que “recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação”, e isso pode levar à “cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas”. “O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”
O colegiado também afirmou que a elevação do aumento de commodities já tem efeito na inflação do ano que vem. “Apesar disso, o Comitê entende que um processo de desancorarem de expectativas pode gerar elevados custos econômicos de longo prazo, motivando o Copom a escolher uma trajetória de elevação de juros compatível com a convergência da inflação para a meta ainda em 2022.” O Copom observou que a inflação ao consumidor “segue elevada e tem se mostrado mais persistente que o antecipado”. A prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 10,34% nos 12 meses encerrados em outubro. Em 2021, o BC persegue a meta inflacionária de 3,75%, com margem de 1,50 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. Para 2022, a autoridade monetária tem meta de 3,50%, com variação entre 2% e 5%. “A alta dos preços está mais disseminada e abrange também componentes mais associados à inflação subjacente. A alta nos preços dos bens industriais ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada”, informou o colegiado. O Copom também citou os impactos do aumento internacional das commodities energéticas, como o petróleo, “cujo impacto inflacionário é amplificado pela depreciação do real, sendo essa combinação o fator preponderante para a elevação das projeções de inflação do Comitê tanto para 2021 quanto para 2022”.
Sobre a atividade econômica, o BC afirmou que ainda conta com a recuperação dos índices no segundo semestre deste ano, “ainda que menos intensa e mais concentrada no setor de serviços”, informou. “Para 2022, se por um lado a elevação dos prêmios de risco e o aperto das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica, por outro, o Copom avalia que o crescimento tende a ser beneficiado por três fatores: a continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços; o desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e os resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece.” Na semana passada, o Copom voltou a subir a taxa básica de juros da economia brasileira, passando a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano. A dose de 1,5 ponto percentual é o movimento de alta mais intenso desde dezembro de 2002 e quebra a sequência de acréscimo de 1 ponto percentual adotada nas últimas duas reuniões do colegiado. O avanço deixa a Selic no patamar mais elevado desde setembro de 2017, quando estava a 8,25% ao ano.
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