Endividamento e salário reduzido: Confira perigos do aumento no limite do empréstimo consignado

Presidente Jair Bolsonaro sancionou na última terça-feira, 30, a lei que amplia a margem do crédito de 35% para 40%; especialistas alertam quais são os cuidados para quem deseja tomar essa linha

  • Por Giullia Chechia Mazza
  • 07/04/2021 08h00
Cédulas de dinheiro. Foto: Marcos Santos/USP Imagens Marcos Santos/ USP Imagens Em meio à crise econômica, trabalhadores têm recorrido ao consignado com maior frequência

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou na última terça-feira, 30, a lei que amplia a margem do empréstimo consignado de 35% para 40% para a contratação por servidores públicos, militares, aposentados e pensionistas do INSS. Segundo o secretário de Previdência, Narlon Gutierre, a medida em vigor até o final deste ano facilita a operação de crédito com taxas mais acessíveis, sobretudo em meio à crise econômica desencadeada pela pandemia de Covid-19. Já que é descontado direto da folha de pagamento do solicitante, muitas vezes o consignado é entendido como uma alternativa simples de empréstimo. No entanto, seu uso deve ser realizado com cautela para que as finanças não saiam do controle, como alerta o analista financeiro e co-fundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen.

“Desde que saibam usá-lo, as pessoas podem entender o aumento da margem do crédito consignado como algo bom. A ampliação de 5% destina-se exclusivamente a dois casos: pagamento de despesas acumuladas por cartão de crédito e utilização com finalidade de saque através, também, do cartão de crédito. Ao comparamos a taxa do consignado, cerca de 1,8%, com as do cheque especial e cartão de crédito – que podem chegar a 10% e 20%, observamos que é possível arcar com tarifas muito inferiores optando pelo consignado. Por isso, usado de maneira saudável, a ampliação do crédito pode reduzir o endividamento e tranquilizar as famílias neste momento de crise. No entanto, se o solicitante pensar nestes 5% como um meio de sacar mais dinheiro e elevar os gastos, pode acabar dando um tiro no pé com a acumulação de dívidas”, explicou Cohen. Antes mesmo da pandemia, o modelo de empréstimo consignado expandia-se fortemente – ao ponto de se consolidar como uma das principais formas de endividamento da população. Já em meio à atual crise econômica, trabalhadores têm recorrido com maior frequência à linha de crédito.

Para evitar que as despesas não se tornem uma “bola de neve”, o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (ABEFIN), Reinaldo Domingos, analisou que algumas medidas devem ser adotadas pelo solicitante do empréstimo. “O primeiro passo a ser dado é mapear todos os gastos mensais para conhecer a fundo sua real situação financeira. Ainda antes de buscar pelo crédito, é preciso ter consciência de que o custo de vida deverá ser reduzido em até 40% do ganho mensal já que o consignado diminuirá seu pagamento diretamente do salário ou do benefício de aposentadoria. Desta forma, quem considera tomar o crédito precisa analisar se o valor debitado em parcelas não fará falta para os compromissos essenciais mensais”, disse Reinaldo. Caso decida-se pelo crédito, os cuidados devem permanecer enquanto este for utilizado. “O consignado não deve fazer parte da rotina de um assalariado ou aposentado. O seu uso precisa acontecer de forma pontual e ter objetivos relevantes”, concluiu o presidente da ABEFIN.

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