Guedes reforça que offshore está dentro da lei e nega manipulação no câmbio
Em depoimento na Câmara, ministro diz que investimentos não configuram conflito de interesses e afirma que todos os empreendimentos estão declarados aos órgãos responsáveis
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reforçou nesta terça-feira, 23, que a offshore que tem participação é completamente legalizada e negou que tenha manipulado a cotação do dólar para alavancar os seus rendimentos. O chefe da equipe econômica prestou esclarecimentos na Câmara dos Deputados sobre a sua relação com uma empresa sediada em um paraíso fiscal. Segundo Guedes, a criação da offshore foi uma forma de proteger o patrimônio da sua família em situações sucessórias e não configura conflito de interesses com a sua posição no governo. “Offshore é um veículo de investimento absolutamente legal. Foi uma decisão pessoal, em 2014, 2015, de querer ter parte dos recursos da família lá fora”, afirmou, ao citar que não quis deixar o dinheiro nos Estados Unidos pela apropriação de parte do valor pelo governo caso ocorresse alguma fatalidade. “Se você morrer, ao invés de ser apropriado pelo governo americano, isso vai para a sua sucessão. Isso explica colocar parente [na offshore]”. O ministro também disse que o valor depositado não foi movimentado desde a criação da empresa e que o empreendimento é declarado todos os anos às autoridades fiscais e ao Banco Central (BC). Em depoimento aos deputados, Guedes ainda afirmou que se desfez de investimentos que teriam impacto direto com a sua gestão na Economia, e que colocou outros negócios que poderiam sofrer indiretamente com suas ações em fundos que não tem gerência, chamados de blind trusts. “Eu desinvesti com um enorme prejuízo, ou seja, eu perdi mais do que valor da offshore“, disse.
O chefe da equipe econômica também rebateu as acusações de que tenha interesses na especulação do dólar, o que impactaria na valorização dos seus investimentos na moeda norte-americana. “Ninguém lutou mais por um Banco Central independente. Se eu fosse uma pessoa que quisesse manipular o câmbio, tivesse interesse, faria o contrário, ficaria com o Banco Central sob o meu comando”, afirmou. Segundo o ministro, nos últimos três anos, o dólar valorizou mais de 2% em um dia em 27 oportunidades, e todas foram por questões ligadas à pandemia do novo coronavírus ou turbulências políticas. “Para todos os brasileiros, que vivemos e temos recursos aqui, e que o nosso futuro e nossos filhos estão aqui, quando o dólar sobe, a gente fica mais pobre. Quem tem um pouco de dólar protegeu uma parte dos seus recursos, mas não escapou da perda patrimonial”, disse. Aos deputados, o ministro também esclareceu que o seu patrimônio é reflexo do seu trabalho na iniciativa privada, e citou a sua participação na criação do Banco Pactual, na Abril Educação e nas instituições de educação executiva Insper e Ibmec. Guedes também ressaltou que não entrou no governo para benefício próprio. “Se eu fosse alguém que quisesse ganhar dinheiro vindo para o governo para usar informações privilegiadas, promover meus próprios interesses, eu teria vindo antes”, disse, ao citar um convite para assumir um quadro no Banco Central durante o governo de José Sarney.
Ao ser pressionado pelos parlamentares para divulgar as informações das suas movimentações financeiras nos seus fundos de investimento no país e na offshore, Guedes afirmou que não tem a obrigação de repassar aos deputados esses dados, e que todos os documentos foram entregues para os órgãos responsáveis. “A Receita Federal sabe, ela é informada todos os anos. Todas as instâncias pertinentes têm acesso às informações, qual a rentabilidade, se ganhou, se perdeu, que é o que interessa”, afirmou. Ao fim da sessão, Guedes foi questionado pelo deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) quanto havia sonegado. O presidente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, deputado Afonso Mota, disse que o ministro iria se retirar “por não aceitar a pecha de sonegador”, o que levou a uma série de discussões entre os parlamentares. Ao fim, Guedes permaneceu para responder os questionamentos. O ministro também comentou sobre a situação da economia brasileira e disse que o país deve crescer até 5,4% este ano, mas que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 “é outra conversa”. O mercado financeiro estima que o país avance 4,8% em 2021, e 0,7% em 2022. Guedes também disse que o “barulho ensurdecedor” da política atrapalha, mas que é algo típico da democracia. Ao comentar o seu apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que muda a regra do teto de gastos, o ministro afirmou que a sua Pasta não dá a última palavra. “A Economia luta até o final pelo o que é correto tecnicamente”, disse, citando a necessidade de flexibilizar a regra fiscal para garantir recursos aos programas sociais. “A sensibilidade política prevalece e não violenta a arquitetura fiscal.”
A convocação do ministro foi pedida pelos deputados Kim Kataguiri (DEM-SP), Paulo Ramos (PDT-RJ), Elias Vaz (PSB-GO) e Leo de Brito (PT-AC). Os requerimentos para a convocação foram aprovados no mês passado pelas duas comissões. Por ter sido convocado, o ministro foi obrigado a comparecer. A participação de Guedes em offshores foi divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Além de Guedes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também foi apontado como participante em uma empresa em paraíso fiscal. Ambos afirmam que os empreendimentos foram declarados às autoridades e negam irregularidades.
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