Inflação de janeiro é a maior para o mês em 6 anos; acumulado de 12 meses vai a 10,4%

IPCA fica 0,54% com avanço dos alimentos; aumento dos combustíveis e energia elétrica perde fôlego

  • Por Jovem Pan
  • 09/02/2022 09h10 - Atualizado em 09/02/2022 15h14
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Pilar Olivares/Reuters - 10/09/2020 Projeto interministerial para alterações na legislação sobre a validade dos alimentos deve ser apresentado em 15 dias Especialistas concordam que preços dos alimentos tendem a diminuir ao longo do segundo semestre

A inflação brasileira perdeu fôlego em janeiro, mas ainda se manteve acima de 10% no acumulado de 12 meses, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,54% ante avanço de 0,73% em dezembro. Apesar da perda de fôlego, é o maior registro para o primeiro mês do ano desde 2016. Em janeiro de 2021, a inflação teve alta de 0,25%. O resultado deixa a variação de preços no patamar de 10,38% em 12 meses, acima dos 10,06% registrados no mesmo período imediatamente anterior. Em janeiro do ano passado, a soma do período era de 4,56%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, reduziu para 0,67% ante alta de 0,73% em dezembro. O indicador, que é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, acumula, em 12 meses, avanço de 10,6 abaixo dos 10,16% registrados em 2021.

O resultado foi influenciado, principalmente, por alimentação e bebidas (1,11%), que teve o maior impacto no índice do mês (0,23 p.p.). “Foi a alimentação no domicílio (1,44%) que influenciou essa alta. Mais do que a alimentação fora do domicílio, que desacelerou de 0,98% para 0,25%. Os principais destaques foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%), que embora tenham desacelerado em relação ao mês anterior, tiveram os maiores impactos nesse grupo, 0,04 p.p e 0,03 p.p, respectivamente”, explica o analista da pesquisa, André Filipe Almeida. A desaceleração no índice do mês foi puxada pelos transportes, grupo com maior peso do IPCA, que recuou 0,11%, após subir 0,58% em dezembro. Esse foi o único dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados a ter queda em janeiro.

O recuo é consequência, principalmente, da queda nos preços das passagens aéreas (-18,35%) e dos combustíveis (-1,23%). A gasolina, um dos principais vilões do IPCA em 2021, registrou retração de 1,14%, enquanto o etanol — líder da variação de preços no ano passado —, reduziu 2,84%. O diesel, com alta de 2,38%, foi o único combustível a registrar alta em janeiro. “A queda nas passagens aéreas pode ser explicada pelo componente sazonal” explica André Filipe Almeida. “Em relação aos combustíveis, os reajustes negativos aplicados nas refinarias pela Petrobras, em dezembro, ajudam a entender o recuo nos preços em janeiro”, acrescenta o analista do IPCA. Em habitação (0,16%), os preços desaceleraram em relação ao mês anterior (0,74%), principalmente por conta do recuo da energia elétrica (-1,07%), embora ainda permaneça em vigor a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Houve ainda mudanças de PIS/COFINS, de ICMS e de tarifa de iluminação pública em algumas áreas pesquisadas. Em janeiro, os preços do gás de botijão (-0,73%) recuaram pela primeira vez após 19 meses consecutivos de alta. Em 12 meses, o botijão acumula alta de 31,78%.

A inflação em 2021 foi puxada pelo aumento de preços administrados, como a energia elétrica e os combustíveis, e fortalecida pela desvalorização do real ante o dólar, o aumento do preço de commodities e a crise hídrica. O mercado financeiro estima que o IPCA encerre 2022 a 5,44%, de acordo com previsões do Boletim Focus divulgadas nesta segunda-feira, 7. A revisão afasta o patamar da meta de 3,5% perseguida pelo Banco Central (BC), com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2% e 5%. A autoridade monetária informou nesta terça-feira, 8, que o IPCA deve fechar 2022 a 5,4%. Caso se confirme, será o segundo ano seguido que o IPCA estoura o teto. Para o ano que vem, os analistas estimam que a variação de preços fique em 3,5%. Em 2023, a autoridade monetária deve perseguir a meta de 3,35%, com limites de 1,75% e 4,75%.

No esforço de trazer a inflação para a meta em 2022 e 2023, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 9,25% para 10,75% na semana passada. Foi o terceiro acréscimo seguido de 1,5 ponto percentual na Selic. O BC deixou contratado novo aumento no encontro de março, mas admitiu que o ritmo deve ser desacelerado. O mercado financeiro espera que a taxa básica encerre o ano a 11,75%. Parte dos analistas, porém, enxerga a Selic acima de 12% no fim do primeiro semestre em meio às pressões que possam dificultar o controle da variação de preços ao longo dos próximos meses. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para tentar barrar a alta dos combustíveis é o novo ponto de tensão para a variação dos preços pelo agravamento do risco fiscal. Na ata divulgada nesta terça-feira, o BC apontou a deterioração da expectativa com as contas públicas como fator que pode desestabilizar as expectativas para a inflação nos próximos meses. A escalada dos juros chamou a atenção de setores produtivos e reacendeu as críticas de que a política monetária está sendo conduzida de forma equivocada. Para representantes da indústria, do comércio e da gestão de empresas, a indicação de que a taxa básica vai extrapolar a casa dos 12% neste semestre significa que o “remédio amargo” ministrado pelo BC para trazer a inflação para a meta está levado ao overkill, ou seja, um quadro em que a dose é exagerada e causa a morte do paciente.

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