Inflação reforça lenta retomada econômica e indica novo corte na Selic

Segundo economistas, preços ainda devem apresentar aceleração neste mês, mas é esperada normalização a partir de agosto

  • Por Camila Corsini
  • 10/07/2020 17h13
Agência Brasil Homem escolhe alimento em prateleira Apesar da aceleração dos preços em junho, resultado ainda é confortável para o cumprimento da meta de inflação; em 12 meses, índice acumula alta de 2,13%, abaixo da meta de 4%

A inflação de 0,26% no IPCA de junho, puxada pelos setores de alimentação (0,38%) e de transporte (0,31%), marca a interrupção de dois meses consecutivos de deflação no índice oficial de preços ao consumidor. Em relação a maio, que teve queda de 0,38%, sete dos nove grupos apresentaram retomada — o que indica uma volta da inflação generalizada. Nesse cenário, apesar dos números mais positivos, a tendência é que o PIB  (Produto Interno Bruto) se contraia ainda mais e a Selic tenha novo corte na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, em agosto.

“Apesar da aceleração da inflação, esse número ainda é muito confortável. Quando a gente olha o acumulado de 12 meses, ele é de 2,13%. Esse patamar é muito abaixo da meta do ano, que é de 4%”, afirma a economista-chefe da Claritas Investimentos, Marcela Rocha. Ela ressalta que esses dois setores são os que mais reagem à atividade econômica, já que preços de alimentos e gasolina são muito afetados pela taxa de câmbio, pelo preço do petróleo e pelas mudanças nos padrões de consumo.

De acordo com a economista, o IPCA deve continuar positivo nos próximos meses – o período de deflação ficou para trás. “Em julho, a previsão é de uma alta de 0,6%. Para agosto, a tendencia é uma aceleração do preço da gasolina, um aumento nos preços da alimentação — refletindo a normalidade e a taxa de câmbio. Outros itens também devem subir com a reabertura dos serviços de cuidados pessoais — como cabeleireiros, bares e restaurantes. A tendencia é a normalização da inflação. Acelera em julho, mas a partir de agosto se estabiliza nesse patamar. Não seria um repique preocupante, mas uma normalização das atividades. Quando reabrir tudo, vamos entender os repasses de custos e demanda.”

Uma recessão da economia brasileira ainda é inevitável. As informações já conhecidas mostram que abril foi o pior mês para a atividade no Brasil. O IBC-BR caiu quase 10% no quarto mês do ano. Em contrapartida, o comércio varejista teve alta de 13,9% em maio, e os serviços caíram 0,9%. O que reforça que a recuperação não é generalizada, mas focada nos segmentos que retomaram as atividades. O segundo trimestre terá queda forte no PIB, porque, mesmo com todos os estímulos, foram destruídos postos de trabalho. Nesse cenário, Marcela prevê queda no PIB de 5,5% neste ano.

Em 17 de junho, o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,75 ponto percentual — de 3% para 2,25% ao ano. Na ocasião, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, mostrou otimismo com a atividade e sinalizou que a aceleração poderia surpreender. Ainda assim, a economista-chefe da Claritas vê espaço para mais um corte — dessa vez menor, de 0,25 ponto — para 2% ao ano. “O IPCA reforça o cenário de que tem espaço para novos cortes. Esses dados de atividades são um lembrete para o BC de como não é certa essa recuperação rápida, já que ela é muito heterogenia”, finaliza.

O que é IPCA

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é medido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e é considerado o índice oficial da inflação no Brasil. Ele é calculado com base nos preços diários e com pagamento à vista. A pesquisa é feita em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios (valores de aluguel) e concessionárias de serviços públicos. São nove os grupos de produtos e serviços: alimentação e bebidas; artigos de residência; comunicação; despesas pessoais; educação; habitação; saúde e cuidados pessoais; transportes e vestuário – divididos em 465 subitens.

O custo de vida refletido no índice é de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e Vitória. Os municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília também são verificados.

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