Mercado piora projeção para inflação de 2024 em meio a debate sobre revisão da meta fiscal
Capacidade do governo de cumprir o objetivo de déficit zero no ano que vem foi colocada em xeque na semana passada após falas do presidente Lula (PT)
Apesar de manter a expectativa para o IPCA ( Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano, o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 6, ajustou para cima a expectativa da inflação oficial do país em 2024. Em 2023, a projeção seguiu em 4,63%, há um mês a mediana era de 4,86%. No entanto, para o ano que vem o índice subiu de 3,9% para 3,91%. Há um mês, a expectativa para o IPCA de 2024 era de 3,88%. As estimativas do relatório feito pelo Banco Central (BC), que avalia as expectativas do mercado, continuam acima do centro das metas para a inflação. Para 2023, a mediana está abaixo do teto da meta (4,75%), evitando o estouro do objetivo a ser perseguido pelo BC pelo terceiro ano consecutivo, depois de falhar em 2021 e 2022. Para 2025, que tem peso minoritário nas decisões do Copom, a projeção continuou em 3,5% pela 15ª semana consecutiva. No horizonte mais longo, de 2026, a estimativa seguiu em 3,50% pela 18ª semana.
A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano se manteve em 2,89%. O governo ainda espera que o crescimento alcance 3,2%, enquanto o BC projeta aumento do PIB em patamar semelhante à expectativa do mercado, em 2,9%, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro. Em 2024 a estimativa de crescimento do PIB também foi mantida em 1,50%, mesmo patamar do mês passado. Para 2025, a mediana continuou em 1,90% e o mesmo se aplica para a expectativa para 2026, que se manteve em 2,00% de crescimento do PIB, mesmo valor de um mês atrás.
No entanto, a projeção do mercado para o PIB de 2024 já prevê déficit primário de 0,8%. O “resultado primário” é definido pela diferença entre receitas e despesas do governo, excluindo-se da conta as receitas e despesas com juros. A capacidade do governo de cumprir a meta fiscal de déficit zero em 2024 foi colocada em xeque na semana passada, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmar que “dificilmente” a gestão conseguiria fechar as contas públicas no zero a zero. O objetivo já era visto como ambicioso e otimista por diversos analistas, mas a fala do mandatário fez com que se gerassem dúvidas sobre a capacidade da equipe econômica de cumprir seus acordos e ter responsabilidade fiscal, além de gerar um desconforto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
De acordo com o Focus, o mercado manteve a expectativa para a taxa básica de juros (Selic) no final de 2023 em 11,75% pela 13ª semana consecutiva. Na semana passada, o Banco Central reduziu a Selic pela terceira vez consecutiva em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Neste sentido, o mercado espera mais um corte do mesmo patamar na última reunião do ano, em dezembro. Para 2024, a projeção da Selic também foi mantida em 9,25%. Há um mês, a estimativa era de 9,00%. Já no horizonte mais longo, a projeção para a Selic no fim de 2025 seguiu em 8,75% e para 2026 continuou em 8,50%. O dólar também não sofreu alteração no Focus desta semana, com estimativa para o câmbio em R$ 5,00 para 2023 e R$ 5,05 para 2024. O Relatório Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores. As projeções são do mercado, não do BC.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.