Paralisação em meio à pandemia faz indústria liderar queda histórica do PIB

Com retração de 12,5%, atividade foi a mais impactada pelo recuo de 9,7% da economia nacional no segundo trimestre; setor de serviços é apontado como o último a sair da crise

  • Por Gabriel Bosa
  • 01/09/2020 12h13
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Arquivo/General Motors do Brasil Arquivo/General Motors do Brasil Isolamento social causado pelo novo coronavírus forçou a suspensão de atividades na indústria

A queda histórica de 12,3% nas atividades industriais puxaram a economia brasileira para baixo no segundo trimestre, que acumulou recuo de 9,7%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feria, 1. Logo atrás veio o setor de serviços, com retração de 9,7% na comparação com os três primeiros meses do ano. Com alta de 0,4%, o agronegócio foi a única atividade econômica que apresentou saldo positivo no Produto Interno Bruto (PIB). Os tombos da indústria e serviço evidenciam os efeitos do isolamento social causado pelo novo coronavírus na produção e demanda. Por um lado, setores inteiros — como o automotivo — suspenderam as atividades, enquanto na outra ponta a população deixou de consumir pelo fechamento do comércio ou receio de sair de casa.

A indústria de transformação foi a mais impactada, com recuo de 17,5%. Já a construção civil, apontada como um dos principais termômetros da economia, teve retração de 5,7%, enquanto atividades relacionadas a eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos apresentou queda de 4,4%. A indústria extrativa, que representa a produção de petróleo e mineração, caiu 1,1% no segundo trimestre encerrado em junho. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, dados mais recentes da construção civil apontam o segmento como um dos propulsores da retomada do setor de indústria. “Mesmo com a forte queda, alguns setores da construção civil estão indo bem, como a venda de materiais de construção e consumo de cimento”, afirma. Segundo ele, esses dois pontos estão ligados ao isolamento social e distribuição do auxílio emergencial. “É o consumo de pessoas questão usando o dinheiro para fazer pequenas reformas, já que estão dentro de casa por conta da quarentena.”

O setor de serviços é apontado pelo economista como um dos últimos a apresentar recuperação por depender de maior contato social. “Há diversos segmentos em serviço que são naturalmente de aglomeração. Áreas como o setor aéreo, turismo, entretenimento e transporte público em geral, vão enfrentar a retomada de uma forma muito mais devagar, dependendo da vacina”, afirma. A mesma opinião é compartilhada por Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimento. “Mesmo que o setor de serviços tenha apresentado melhora em julho, o setor vai demorar mais para reagir, apesar do inicio da retomada das atividades”, afirma.

A atividade agrícola foi a única que não entrou no vermelho no último semestre. Entre abril e junho, o setor apresentou alta de 0,4%, ante o crescimento de 0,5% nos três primeiros meses do ano. Para Vale, da MB Associados, o setor de commodities evitou uma queda ainda mais brusca da economia brasileira. “Tanto o agronegócio, quanto a mineração tiveram o comportamento bastante favorável no trimestre por conta da demanda chinesa e da taxa de câmbio”, diz. Segundo ele, somados, os dois setores representam quase 35% do PIB nacional. “O Brasil tem esse diferencial dos outros países das commodities ter tanta relevância na economia”, diz.

A retração das atividades econômicas pelo segundo período consecutivo deixa o Brasil em recessão técnica pela primeira vez desde o último semestre de 2016. No primeiro trimestre deste ano, o PIB teve retração de 2,5%, segundo dados revisados pelo IBGE. Em relação ao mesmo período do ano passado, a retração foi de 11,4%. Reflexo da crise originada pelo coronavírus, o resultado de abril a junho foi o mais baixo da série histórica desde o início da contagem trimestral, em 1996. Antes, a maior queda em três meses havia ocorrido entre outubro e dezembro de 2008, quando a economia retraiu 3,9%. No 1º semestre de 2020, o PIB caiu 5,9% em relação a igual período de 2019, também o resultado mais baixo já registrado. Em valores correntes, o PIB do no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão.

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