Produção industrial cai 0,7% em agosto e registra a terceira queda consecutiva

Resultado deixa o setor 2,9% abaixo do nível pré-pandemia; falta de peças, salários reduzidos e inflação pressionam as atividades

  • Por Jovem Pan
  • 05/10/2021 11h06
Gilson Abreu/AEN-PR Pessoas trabalhando em uma linha de montagem industrial Crise gerada pelo novo coronavírus se somou a nova década perdida na região, diz Banco Mundial

A produção industrial recuou 0,7% em agosto, na comparação com julho, o terceiro mês seguido de resultados negativos, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho deixa a indústria nacional 2,9% abaixo do patamar pré-pandemia do novo coronavírus, em fevereiro de 2020. Desde junho, o setor acumula queda de 2,3%. Na comparação com agosto de 2020, a queda também é de 0,7%, interrompendo 11 meses seguidos de crescimento. O setor registrou ganho de 9,2% no ano e de 7,2% nos últimos 12 meses. Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, o resultado negativo reflete os desarranjos da cadeia de produção gerados pela crise sanitária, que impactam no encarecimento dos produtos e na falta de peças. No cenário doméstico, a produção industrial é desafiada pela alta do desemprego e o avanço da inflação. “Há um contingente importante de trabalhadores fora do mercado de trabalho e os postos que são gerados têm salários menores, ou seja, há uma precarização das condições de emprego. Também há retração da massa de rendimento e uma renda disponível menor para as famílias, por conta da inflação mais alta. Esses fatores afetam as condições de compra por parte das famílias”, afirma.

A pesquisa do IBGE revelou queda em três das quatro grandes categorias, e em 15 dos 26 ramos. Com recuo de 3,4%, a categoria bens de consumo duráveis marcou o oitavo mês consecutivo de redução, acumulando, no período, queda de 25,5%. Bens de capital (-0,8%) e bens intermediários (-0,6%) também registraram queda em agosto. A única grande categoria econômica a registrar aumento nessa comparação foi o setor de bens de consumo semi e não duráveis (0,7%), que intensificou o crescimento de julho (0,5%). Por ramos, o desempenho negativo foi puxado, principalmente, por outros produtos químicos (-6,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,3%). “O setor de outros produtos químicos já vinha com queda nos dois meses anteriores, ligada a paralisações em unidades produtivas. Já no setor de derivados de petróleo, houve crescimento nos três meses anteriores, muito relacionado à flexibilização das restrições sanitárias, que permitiu que as pessoas tivessem maior mobilidade. Então a queda dessa atividade em agosto representa mais uma acomodação, algo pontual, do que uma reversão de tendência do comportamento positivo”, analisa.

Outras atividades que impactaram negativamente o índice geral foram equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,0%), produtos de borracha e de material plástico (-1,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,6%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,8%). Já entre as que tiveram crescimento na produção, destacaram-se produtos alimentícios (2,1%), bebidas (7,6%) e indústrias extrativas (1,3%). “Essas três atividades tiveram um comportamento predominantemente negativo nos meses anteriores. O resultado positivo no mês de agosto é mais um grau de recomposição dessas perdas anteriores do que uma trajetória positiva que esses segmentos industriais venham a ter”, afirmou o pesquisador. Metalurgia (1,1%), produtos de madeira (3,0%) e produtos têxteis (2,1%) também cresceram em agosto.

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