Empresas brasileiras gastam cerca de 44 mil horas por ano com cálculo de impostos
Levantamento realizado pela consultoria Deloitte indica necessidade da reforma tributária para resolver custos excessivos relacionados à complexidade do sistema tributário e alterações frequentes na legislação
O sistema tributário brasileiro é tão complexo que faz com que organizações de diversos setores precisem dedicar muitos recursos para a gestão de pagamento de impostos e tarifas. E a demanda é tão grande que o Brasil é considerado o país que mais gasta tempo com essa questão. As empresas brasileiras chegam a gastar 43.994 horas por ano com gestão tributária, conforme indica a pesquisa “Tax do Amanhã”, produzida pela consultoria Deloitte. O valor é muito superior à média de 233 horas investidas por países de todo mundo, segundo dados do Banco Mundial. Países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) gastam cerca de 164 horas anuais. O tempo dedicado considera o preenchimento e entrega de obrigações acessórias, apuração e pagamento, atendimento a fiscalizações, gestão do contencioso tributário e outras atividades. A pesquisa da Deloitte aponta que a quantidade de horas aumenta de acordo com o porte e abrangência da companhia. Para empresas com faturamento anual de até R$ 45 milhões, a média de tempo gasto com impostos e tributos é de 7.610 horas por ano. O número sobe para 9.849 horas para empresas que faturam cerca de R$ 240 milhões anualmente. Para arrecadações na faixa de R$ 1,1 bilhões, o tempo cresce para 10.764 horas. Já companhias que faturam R$ 7,1 bilhões chegam a 43.994 horas cuidando dos impostos. Esse cenário comprova a necessidade urgente de que o país passe por uma reforma tributária, avisam especialistas.
Sócio de consultoria tributária da Deloitte Brasil, Marcelo Natale aponta que o custo da tributação considera tanto o valor que é recolhido quanto todo o trabalho despendido para a regularização das demandas tributárias. Por conta da complexidade do sistema tributário e alterações frequentes na legislação, o atendimento ao compliance tributário se torna um grande desafio para as empresas. “Quando o sistema é muito complexo, a empresa nunca tem certeza se está fazendo o certo ou não. Além de custar muito, no final do dia, as companhias ainda enfrentam uma grande insegurança jurídica. O contencioso tributário reflete isso. Esse anseio generalizado pela reforma tributária não é apenas um desejo de simplificar o processo porque dá menos trabalho. Vai além disso porque as organizações querem saber as regras do jogo, como devem se estruturar para atuar nesse mercado e ter segurança jurídica. As decisões econômicas são tomadas hoje, mas precisam levar em conta o horizonte à frente, porque afetam o longo e médio prazo. Mesmo os consumidores precisam ter um horizonte de previsibilidade. Por isso, há essa necessidade de segurança jurídica e simplificação, sem que isso resulte em uma cobrança maior de impostos”, analisa.
Também sócio da área de consultoria tributária da Deloitte Brasil, Guilherme Giglio reforça que o principal objetivo dos contribuintes não é a redução da carga tributária, mas a simplificação do modelo. “A complexidade do sistema que temos hoje traz mais preocupações e riscos. Não é uma coincidência que o Brasil esteja sempre nas últimas colocações em rankings de competitividade. Isso porque um dos principais fatores avaliados é a complexidade do sistema tributário. Hoje, a complexidade do modelo brasileiro é um entrave para que investimentos e empresas venham para o Brasil. Eles preferem se manter no exterior por conta dos riscos. Independentemente do governo, a reforma tributária atualmente é um dos principais pilares para a retomada da economia brasileira. Ela contribuirá para sinalizar positivamente para investidores e o ambiente de negócios uma melhoria no país, que poderá ter um papel de destaque. O que temos entendido é que a prioridade seria atacar a reforma tributação sobre o consumo, reduzindo tributos e colocando o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) como modelo. Em um segundo momento, seria trabalhada a tributação sobre renda, que tem maior complexidade no consumo”, complementa.
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