Campos Neto rebate Lula e afirma que inflação poderia estar em 10% sem intervenção do BC

Presidente do Banco Central defendeu que autonomia da instituição fez com que ela elevasse a Selic durante o período eleitoral e freasse taxas mais altas para este ano 

  • Por Jovem Pan
  • 25/04/2023 11h29 - Atualizado em 25/04/2023 15h25
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a política monetária adotada pelo órgão e afirmou que, se a instituição não tivesse elevado a taxa de juros durante o período eleitoral, a Selic poderia estar em 18,75%, e a inflação, em 10%. Durante participação em audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal, ele argumentou que os mecanismos adotados pelo BC impediram que a inflação aumentasse em um nível maior do que a atual. “Nunca na história desse país, nem na história do mundo, foi feito um movimento de alta dos juros em um período eleitoral. O que mostra que o BC entendeu que a inflação ia subir, antes de grande parte dos outros países. O BC do Brasil foi um dos primeiros a subir os juros”, afirmou o economista, lançando mão de uma expressão usada à exaustão pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Selic se encontra em 13,75% ao ano, o maior nível registrado em seis anos. Contudo, de acordo com o presidente do Banco Central, o número poderia ter sido muito maior. “E hoje, para controlar a inflação e a expectativa do ano que vem, teríamos que ter juros de 18,75%. Se não tivéssemos, a inflação ia contaminar e subir bastante. O BC atuou de forma autônoma”, acrescentou. A inflação atualmente se encontra em 5,8%, mas poderia ter chegado a 10% no ano passado, de acordo com Campos Neto.

O presidente do BC também defendeu que não existe “mágica” para equilibrar as contas públicas do país. “É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal, infelizmente não tem bala de prata. Se a gente não tiver as contas em dia, se não tiver uma perspectiva, a gente não consegue melhorar”, afirmou. Ele ainda afirmou que deseja baixar a taxa de juros, mas que o movimento teria de ser feito na hora certa, com credibilidade, para conseguir convencer mercado. Contudo, ele indicou que ainda não há previsão para quando isso deve acontecer. “O BC quer que caiam os juros. O BC gosta de trabalhar com os juros baixos, gosta de ter a economia crescendo de forma sustentada, com inflação baixa. Houve períodos no passado com juros reais altos, e o resto [do mundo], com juros baixos, mas não é o que está acontecendo agora”, pontuou.

Campos Neto afirmou que apenas baixar a Selic, sem uma estratégia adequada, iria gerar um aumento de taxas bancárias. “Escuto que se abaixar a Selic, melhoram as condições de crédito. Não. Vai melhorar e se eu tiver credibilidade com o que faço na Selic. Eu controlo os juros de um dia, e todo o resto da curva de juros é determinada pelo preço que as pessoas querem emprestar ao governo. Se eu não tiver credibilidade, posso baixar os juros curtos e os juros longos subirem”, ponderou o chefe da autarquia, em clara resposta ao presidente Lula.

Na segunda-feira, 24, Lula, em viagem oficial a Portugal, voltou a criticar a manutenção da taxa de juros, a Selic, em 13,75%. Como a Jovem Pan mostrou, desde que assumiu o governo, em janeiro deste ano, o petista defende com bastante rigidez a redução da Selic. Segundo ele, em um país capitalista, o dinheiro precisa circular “na mão de todos”. “A nossa taxa de juros é muito alta. É muito alta”, enfatizou. “No Brasil, a taxa Selic, que é a referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, argumentou o petista, defendendo que a solução para o país é “voltar a colocar o pobre no orçamento”. “Porque, se eles virarem consumidor, vão comprar. Quando eles comprarem, o comércio gera emprego”, completou.

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