Eleições com cara de casamento em feira livre

  • Por Agencia EFE
  • 26/05/2014 18h35
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Imane Rachidi.

Cairo, 26 mai (EFE).- As mulheres emitem o som “zaghareet” – muito comuns em casamentos -, os homens estão quase ausentes, os carros buzinam em ritmo de comemoração e músicas são tocadas em altíssimo volume nos alto-falantes dos vendedores ambulantes. Poderia ser uma feira livre, mas são as eleições presidenciais no Egito.

O pleito acontece nesta segunda-feira e amanhã em um ambiente festivo e pitoresco para dar a bênção nas urnas ao ex-chefe do exército Abdul Fatah al Sisi como presidente do país.

“Aos casais sempre é dito que devem comemorar em uma festa, um casamento, para que todo mundo abençoe sua relação; o mesmo acontece com Sisi, é preciso realizar eleições para legitimá-lo diante do mundo inteiro”, argumentou o motorista Khalil Ahmed.

Realmente, a situação se assemelha a de um grande casamento egípcio, na qual muitas mulheres usam suas melhores roupas e outras comparecem às urnas ocultando o rosto por trás do “niqab” (véu islâmico).

Com uma visível diminuição do tráfego nas ruas e as altas temperaturas que caracterizam o Egito por estas datas, muitos egípcios vão aos colégios eleitorais com bandeiras, camisas com o rosto de Sisi e cantando o hino nacional.

Perguntados em quem votaram ou vão votar, homens e mulheres gritam orgulhosos o nome de Sisi e garantem que ele é o único candidato que merece ser o presidente do Egito. O curioso é que a maioria sabe em quem votar, mas muitos não sabem como.

Um idoso pergunta “como se vota em Sisi” a um voluntário em uma sala do colégio eleitoral estabelecido no Instituto Militar de Imbaba, um bairro humilde da zona oeste da capital.

O jovem hesita em responder, mas opta por ajudar o homem de forma neutra, afirmando que “a estrela é o símbolo de Sisi, e a águia, o de Sabahi”. O homem marca o campo referente ao ex-militar, reza uma oração do Corão e pede a Deus que ajude seu “herói” a ganhar as presidenciais.

Em algumas ocasiões, parece um insulto perguntar aos egípcios em quem têm intenção de votar, já que a resposta costuma ser uma expressão de surpresa ou um “qual outro candidato há além de nosso marechal?”.

“Votei bem? Este é o herói?”, perguntou à reportagem da Efe uma mulher de meia idade, nervosa por não ter certeza se acertou o campo que indica voto em Sisi, no colégio Azbet Abuk, em Imbaba.

Outra mulher chega ao mesmo local com sua documentação e uma bandeira do Egito aos gritos de “Sisi, Sisi”, mas ao receber sua cédula, confessou que não sabia o que fazer com ela.

Um interventor tentou lhe explicar como funcionam as eleições, qual é o símbolo de cada candidato e onde é preciso marcar sua escolha.

Com certo ar de aborrecimento, a mulher lhe responde para “deixar de tolices” e emenda: “quem é esse Sabahi?”.

É preciso ir para longe dos centros de votação para encontrar egípcios com uma opinião contrária.

Khaled al Ghandour, um farmacêutico do bairro de Shubra, no subúrbio do Cairo, se mostra firme em sua rejeição ao processo de transição iniciado após a queda do governo do islamita Mohammed Mursi em julho e justifica sua decisão de não votar a favor de que “nenhuma mulher se case duas vezes”.

Ghandour, de 53 anos, considera que já tem um “presidente legítimo que está na prisão”, em alusão a Mursi. “Votamos em eleições cujos resultados foram pisoteados pelos tanques do exército”, declarou, antes de encerrar e conversa de forma contundente.

“Sisi já é o ganhador, comigo ou sem mim. E ponto”. EFE

ir/id

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