Escritor que desnudou máfia italiana lamenta absolvição de criminosos
Roma, 11 nov (EFE).- Roberto Saviano ficou decepcionado com a Justiça italiana, que absolveu nesta terça-feira dois chefões da máfia acusados de ameaçar o escritor, e lamentou que na Itália seja necessário “dois mortos famosos ao ano para que a luta contra a máfia ganhe fôlego”.
Com esta frase, do promotor Giovanni Falcone, assassinado pela máfia em 1992, o escritor de “Gomorra” (2006) e de “ZeroZeroZero” (2013) comentou a absolvição dos mafiosos Francesco Bidognetti e Antônio Iovine da acusação de ameaças a ele e a senadora do Partido Democrata, Rosaria Capacchione.
Foi o único comentário do escritor, condenado à clandestinidade por destrinchar os negócios da Camorra, a máfia napolitana.
Sobre Bidognetti e Iovine pesam várias condenações de prisão perpétua pelos crimes na Camorra. Iovine, apelidado de “il Ninno”, colabora com a Justiça italiana há vários meses.
Os juízes da 3ª seção penal de Nápoles consideraram o advogado dos criminosos, Michele Santonastaso, culpado, que recebeu a pena – já suspensa – de um ano de reclusão pelos mesmos crimes: “intimidações agravadas com finalidade mafiosa”.
Essas “intimidações” aconteceram durante o histórico processo “Spartacus”, um dos mais importantes na luta contra o crime organizado italiano, encerrado em 2010 com duras penas contra vários membros da sanguinária família dos Casalesi.
Após mais de 500 testemunhos, a extensa rede de atividades ilegais do clã mafioso, como o controle da coleta de lixo e resíduos tóxicos, além dos múltiplos assassinatos, foi revelada.
Essa rotina dos Casali foi destrinchada quatro anos antes por Saviano no best-seller “Gomorra”.
“Não consigo ficar tranquilo. Como é possível que possam considerar um advogado desvinculado de seus clientes”, questionou, com visível amargura.
“Sinto ter vivido uma situação à italiana: dois mafiosos que envenenaram a água, manipularam o setor empresarial, meteram as mãos em todos os lados… foram absolvidos. É incrível que o país não se dê conta de que, assim, eles vencem”, lamentou.
A decepção foi tamanha que, questionado se algum dia voltaria a Itália, respondeu com outra pergunta: “Você retornaria se absolvessem (os mafiosos)?”.
“Volto aos Estados Unidos. É duro o exílio. Gostaria retornar a uma Itália diferente e livre. Sinto experimentar a diáspora dos italianos que deixam o país para viver melhor”, desabafou. EFE
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