Estudos genéticos entram na batalha contra a dor crônica
Alida Juliani Sánchez.
Buenos Aires, 17 out (EFE).- O estudo genético exerce atualmente um papel preponderante para definir como as pessoas sentem e respondem a qualquer tipo de dor crônica, uma doença que afeta 30% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A dor que se estende no tempo além de seis meses deixa de ser um sintoma para passar a ser uma patologia, cuja origem e tratamento foram debatidos durante esta semana em Buenos Aires por mais de seis mil profissionais de todo o mundo.
“A dor se transmite, e hoje se sabe efetivamente a importância que o impacto genético tem em sua percepção”, explicou à Agência Efe o neurocirurgião Fabián Piedimonte, presidente do Comitê Local da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, na sigla em inglês).
“Hoje a genética tem um papel preponderante para definir como um indivíduo vai sentir a dor, se terá uma maior ou menor sensibilidade”, acrescentou.
Segundo Piedimonte, o tratamento da dor de forma individual ou isolada é algo que se fez desde sempre, mas sua avaliação como doença é algo “muito recente”, motivo pelo qual não existem suficientes profissionais de saúde especializados nessa área.”Um dos objetivos deste congresso foi treinar e alertar os médicos para que estejam capacitados para os que sofrem deste mal”, destacou o neurocirurgião.
A porcentagem de pessoas afetadas por algum tipo de dor crônica chega a 50% entre os maiores de 65 anos, enquanto entre os maiores de 80 alcança 85% da população.
“E o estilo de vida tem sem dúvida muito a ver com isso”, assegurou Piedimonte, que destacou as dores da coluna como uma das mais frequentes.
Depois das lombares, aparecem na segunda posição os padecimentos osteoarticulares (artroses) e depois as neuropatias, originadas por uma alteração na comunicação nervosa, por exemplo nas fibromialgias.
“E essa dor crônica tem um efeito devastador sobre a personalidade de quem a sofre”, ressaltou o médico.
Depressão, ansiedade e falta de sono são algumas das consequências de uma dor constante que, segundo Piedimonte, “pode e deve ser combatida”.
“Há uma infinidade de tratamentos que pode preveni-la e combatê-la que vão desde a administração de analgésicos em distintas escalas à técnica mais inovadora: a neuromodulação, que consiste em implantar um dispositivo que atua como bloqueador daquilo que produz a dor”, explicou.
Existem outros métodos como os derivados da morfina, “que, com a aplicação adequada, também ajudam”, as infiltrações ou os tratamentos químicos.
“E o desejável seria dizer que muitas destes tratamentos poderiam fazer desaparecer a dor crônica, mas não é o caso, eles podem apenas atenuar”, comentou o neurocirurgião.
Apesar de tudo, segundo a OMS, apenas 10% das pessoas que sofrem essa dor tem acesso a um tratamento adequado, seja por baixa prescrição do médico, por baixa provisão das enfermeiras, ou porque o paciente não expressou a dor.
Por isso, Piedimonte salientou a necessidade de capacitar especialistas na área e de oferecer aos doentes não só um tratamento dirigido ao aspecto físico, mas também em nível psicológico.
“Está claro que o cérebro exerce um papel importante na sensibilidade à dor, e um exemplo disso são os atletas, que podem realizar esforços incríveis sob altos níveis de adrenalina”, disse.
Junto com o neurocirurgião, médicos clínicos e psicólogos, entre outros profissionais, participaram nesta semana na capital argentina do Congresso Mundial da Dor que, pela primeira vez em 15 edições, aconteceu fora da Europa ou dos Estados Unidos. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.