Exposição em SP lembra anos de repressão sul-americana

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2014 00h23
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Pablo Giuliano.

São Paulo, 23 set (EFE).- “Criar memória histórica” é a proposta do fotógrafo português radicado na Argentina João Pina, que lançou nesta terça-feira em São Paulo um livro e uma exposição fotográfica de alto impacto sobre a Operação Condor, o plano de coordenação repressiva das ditaduras sul-americanas nos anos 70.

Aos 34 anos, sendo que os últimos nove dedicados a seu livro fotográfico “Condor” (Editora Tinta da China), Pina mergulhou nos arquivos das ditaduras de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia e saiu pela América do Sul em busca de imagens sobre as vítimas, os carrascos e os cenários das violações dos direitos humanos.

“Vi um enorme trauma coletivo em toda a região, por isso não se fala (do que ocorreu), ainda há medo. Essa mentalidade está mudando, por exemplo, a 50 anos do golpe brasileiro (1964)”, disse o fotógrafo nesta terça à Agência Efe.

Um dos grandes achados de Pina em seu trabalho de busca em arquivos é a porta de entrada da exposição, 16 fotografias de corpo inteiro de brasileiros que estavam exilados no Chile no momento do golpe de Estado do general Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973, contra o presidente Salvador Allende. Esses brasileiros foram fotografados na embaixada da Argentina em Santiago, e os registros foram encontrados em 1990 com a polícia argentina.

“Apesar de não serem consideradas pessoas desaparecidas, não foi possível localizá-las ainda”, disse ele.

A exposição “Condor” vai até 7 de dezembro no Paço das Artes, na Universidade de São Paulo (USP), mas o autor iniciará a apresentação de seu livro de fotografias pela América Latina a partir da próxima segunda-feira em Bogotá.

Também aparecem retratados dirigentes históricos, como Taty Almeida, um das Mães da Praça de Maio de Buenos Aires, e Martin Almada, um dos principais ativistas sobre os papéis do Plano Condor no Paraguai. E belos cenários misturados com seu passado de atrocidades, como o Rio da Prata, onde os presos políticos eram jogados no mar e o Deserto do Atacama, lugar de execuções por parte das forças repressivas do país.

O livro “Condor”, lançado também no espaço Paço das Artes, tem o epílogo do ex-juiz espanhol Baltasar Garzón e introdução do jornalista americano Jon Lee Anderson. Para o autor, Garzón é uma “inspiração” para sua geração, já que foi ele quem ordenou a detenção de Pinochet em Londres, em 1998.

Após elogiar o avanço na Argentina e no Chile na temática, Pina destacou o Brasil, onde neste ano a Comissão da Verdade foi instalada pela presidente Dilma Rousseff, apesar de reger a Lei de Anistia, que impede a condenação de responsáveis por crimes contra a humanidade.

“Estar aqui neste ano é muito importante pela eleição, porque será conhecido o trabalho da Comissão da Verdade e porque pela primeira vez os militares reconheceram que houve abusos, torturas”, disse o autor da pesquisa.

A presidente Dilma “tem o papel difícil de ter as Forças Armadas, que ainda ensinam que o golpe foi para salvar a pátria do comunismo”, destacou.

Nesse sentido, o fotógrafo apontou que Dilma enfrenta o “interessante conflito” entre a comissão, que tem a ordem de pedir dados, e o atual comandante do exército, Enzo Peri, que “nega a entrega de informação que não passe por ele, contradizendo a ordem presidencial”. EFE

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