Expulso de coletiva por Trump, jornalista diz que é preciso enfrentá-lo

  • Por Agencia EFE
  • 29/08/2015 18h38

Ignacio Esteban.

Miami, 29 ago (EFE).- O jornalista Jorge Ramos, expulso de uma entrevista coletiva nesta semana por Donald Trump, considera que frente ao pré-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos “só cabe a luta e o confronto, porque o tempo do apaziguamento já passou”.

Âncora do canal “Univisión”, Ramos se tornou protagonista da campanha eleitoral por enfrentar publicamente em Iowa o magnata nova-iorquino, que lidera as pesquisas de intenção de voto republicanas a pouco mais de um ano das eleições para a Casa Branca.

Em entrevista à Agência Efe, ele reviveu o caso que repercutiu no mundo todo e afirmou que Trump cometeu um grave erro ao expulsá-lo, já que “se viu obrigado a voltar atrás dez minutos depois” e a responder às perguntas do jornalista, embora de maneira desafiadora e pouco precisa.

Com 30 anos de profissão, Ramos, que nasceu no México, mas tem cidadania americana, afirma que este é o momento de assumir uma posição, pois Donald Trump e suas ações contra os imigrantes ilegais “são muito perigosas”.

Para o desgosto de outros candidatos, como Jeb Bush e Marco Rubio, Trump monopoliza todo o protagonismo republicano desde que classificou os imigrantes como “estupradores e traficantes de drogas”, defendeu a expulsão de 11 milhões de estrangeiros ilegais e sugeriu erguer um muro ao longo da fronteira com o México.

“Trump oferece o horror. Está propondo a maior deportação em massa da história moderna e diante de um discurso tão perigoso só cabe o confronto. Eu levo muito a sério o que ele diz. Acusá-lo de palhaço é um erro porque ele está ganhando nas pesquisas e pode ser presidente dos Estados Unidos”, assegura Ramos, considerado um dos jornalistas mais influentes dos Estados Unidos.

“Eu sou apenas um jornalista que faz perguntas, mas algumas vezes, como jornalistas, somos obrigados a assumir uma posição, e de maneira especial em casos de racismo, discriminação, corrupção e ditaduras”, ressalta ele, que diz preferir enfrentar a questão agora, “antes que Trump seja eleito”.

Acusado por alguns colegas de ultrapassar as fronteiras profissionais para entrar no campo do “ativismo”, Ramos respondeu que “quando um jornalista toma partido, estamos vendo o melhor da profissão”. Diante do problema migratório e do muro na fronteira que o candidato quer construir, ele defende que a solução não é expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, mas integrá-los.

“A solução existe há anos. Em vez de expulsar, eles devem fazer parte. É isso que os EUA fazem há 200 anos. A melhor forma de integrá-los é legalizá-los e oferecer um caminho à cidadania. Isso é o que um país decente e generoso faz. Os Estados Unidos foram maravilhosos comigo. Quando cheguei, há 30 anos, o país me ofereceu as oportunidades e a liberdade que o México não me deu”, defende o jornalista.

Sobre o atual governo, Ramos faz um balanço “bastante agridoce” da gestão do presidente Barack Obama em relação à questão migratória.

“Meu balanço da gestão de Obama neste ponto é bastante agridoce. Fiquei muito decepcionado que ele não tenha cumprido sua promessa. Quando tinha a Casa Branca e as duas Câmaras, podia ter aprovado e teríamos evitado este problema, mas não o fez”, lamentou o jornalista.

Ramos reconheceu, no entanto, que o atual presidente americano ajudou os jovens “sonhadores” e agradeceu que o atual presidente mantenha a intenção de “continuar a trabalhar pela reforma migratória”. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.