Favela em condições sub-humanas surge em antiga fábrica no Rio de Janeiro

  • Por Agencia EFE
  • 10/09/2014 19h27

Manuel Pérez Bella e Carolina Radu.

Rio de Janeiro, 10 set (EFE).- Cerca de duas mil famílias se instalaram em condições sub-humanas há sete meses em uma fábrica abandonada em Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro, diante da impossibilidade de continuar pagando os crescentes valores dos aluguéis dos imóveis de áreas que foram pacificadas na cidade.

A nova favela, surgida em um limitado espaço de 12 mil metros quadrados, não tem água potável, esgoto ou coleta de lixo, e dispõe de apenas dois banheiros para todas as pessoas ocupam a antiga fábrica de plásticos Tuffy Habib. O sistema de ventilação é praticamente inexistente e o ar não circula. O local é quase irrespirável e está constantemente empesteado de doenças.

A paisagem da denominada “Nova Tuffy” é um labirinto de barracos minúsculos, construídas com chapas, compensado, papelão e plástico. Um emaranhado de cabos levam a eletricidade de forma irregular as casas. As vielas formadas são estreitas, inclusive para os padrões das favelas tradicionais. Andar pelo local e ver o caminho constantemente atravancado é constante, já que, por conta do espaço pequeno, é preciso dar passagem para quem vem no sentido contrário.

Os moradores contaram à Agência Efe que se mudaram à fábrica porque não podiam mais pagar os aluguéis nas favelas do Complexo do Alemão, onde a maioria deles vivia. A especulação imobiliária na região é consequência da política de pacificação, reclamam os moradores.

“Viver aqui não é bom. Vivemos aqui porque não temos aonde ir. Se não estivéssemos aqui, teríamos que ir debaixo da ponte”, disse à Efe Maria de Lourdes Araújo Cavalcante, desempregada que mora há sete meses na fábrica.

Recentemente, a polícia esteve nas instalações da nova favela para verificar se havia ou não criminosos foragidos. Segundo os próprios moradores, não existe tráfico no local.

Uma semana depois que os primeiros moradores invadiram a fábrica, em 23 de março, o juiz André Fernandes Arruda ordenou o despejo dos moradores, mas a decisão, até o momento, não foi efetivada.

A ocupação desta favela praticamente coincidiu com o tumultuado despejo do prédio da Oi, no Engenho Novo, também na zona norte da capital fluminense, onde viviam quase cinco mil pessoas. A ordem de despejo, posta em prática em abril, provocou violentos protestos que deixaram 16 feridos, 27 detidos, além de ônibus e carros queimados.

Por e-mail, a assessoria de imprensa da prefeitura do Rio de Janeiro, informou à Agência Efe que a reintegração vai envolver diversos órgãos do governo do estado e alguns do executivo municipal.

“Como ocorreu com os invasores da Oi. Como é um ato judicial, cabe ao juiz que decidiu marcar a data e pedir o apoio dos órgãos estaduais e municipais. É ele quem definirá os papéis de cada um neste processo”, escreveu.

Para a Natália Damázio, advogada da ONG Justiça Global, esse tipo de situação ocorre, pois não há política de habitação eficaz no Rio.

“O único diálogo no Rio é a politica de exclusão e não a de garantir direito à população mais pobre. É obrigação do estado garantir moradia para essa população ou, pelo menos, alternativa a isso. O que vem sendo feito em todos os casos é deixar essas pessoas expulsas em situação de desabrigo”, explica ela.

A advogada lembra que, no ato da retirada do morador, uma contraoferta de moradia adequada deve ser feita e, segundo ela, os abrigos não se enquadram nesse perfil.

“Não é ou o abrigo ou você vai ficar sem casa. Isso não pode acontecer assim”, reforça. EFE

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