Futuro da Indonésia se mostra dividido entre Joko Widowo e Prabowo Subianto

  • Por Agencia EFE
  • 06/07/2014 13h17

Eduardo Mariz Cortiñas.

Jacarta, 6 jul (EFE).- A Indonésia deverá escolher nas eleições presidenciais, previstas para a próxima quarta-feira, se põe seu futuro nas mãos do autocrático Prabowo Subianto, um polêmico ex-general, ou nas do carismático e popular governador de Jacarta, Joko “Jokowi” Widowo.

O presidente em fim de mandato, Susilo Bambang Yudhoyono, o primeiro e único chefe de Estado eleito de forma direta, termina agora seu segundo mandato – o último permitido pela Constituição – amparado por um sustentável crescimento econômico, pela consolidação democrática e pelo apaziguamento étnico e territorial.

No entanto, sua insuficiente contundência contra a corrupção e as desigualdades sociais caminha em sentido oposto em relação às aspirações de uma população majoritariamente pobre e de um país ansioso pelo desenvolvimento.

Esses desejos são os que Prabowo e Jokowi, líderes das listas do Partido de Movimento de Grande Indonésia (Gerindra) e do Partido Democrático da Indonésia para a Luta (PDI-P), respectivamente, buscam canalizar no pleito, embora suas apostas ideológicas tenham muitas diferenças.

Por um lado, Prabowo quer transferir sua tenacidade militar à carreira política com medidas protecionistas. Uma delas foi eliminar várias reformas constitucionais de 1998 e retornar ao documento original de 1945, o que deixaria, segundo os analistas, a porta aberta para uma presidência autocrática similar à de Suharto, o dirigente falecido que também foi seu sogro.

Aan, um secretário local na campanha de Prabowo em Jacarta, defende que “a Constituição atual não entende o povo, apenas as empresas”, e advoga por voltar ao documento original redigido por Sukarno e Mohammed Hatta no final da Segunda Guerra Mundial, após a ocupação japonesa.

O ex-general, membro de uma rica família, arrasta um legado duvidoso por sua suposta vinculação com a violação de direitos humanos no Timor, onde era comandante da Kopassus, as forças especiais do exército, e em Jacarta nos meses que antecederam a queda do ditador Suharto em 1998.

Por sua parte, os seguidores de Jokowi atribuem a estagnação atual à herança cultural e institucional de mais de cinco décadas de governos autocráticos até 1998 e, por isso, veem no modesto Widodo uma opção de fora das elites – as mesmas que respaldam Prabowo em coalizão – e capaz de abrir um novo capítulo na luta contra o nepotismo crônico da Indonésia.

“Parece irônico que as eleições mais disputadas desde 1998 possam abrir a porta a uma virada autoritária. Os eleitores têm duas claras opções: manter o status quo com Jokowi ou experimentar a proposta de Prabowo de voltar à Constituição autocrática de 1945”, disse o acadêmico australiano Marcus Mietzner.

Segundo Mietzner, a grande brecha ideológica criada entre ambos os candidatos acentuou o fervor eleitoral e, “se o resultado fosse dado com uma estreita diferença, o perdedor poderia impugnar os resultados das eleições e iniciar uma revolta violenta no país”.

No plano religioso, Jokowi demonstrou ser um defensor do pluralismo como governador de Jacarta, respaldando a eleição de uma subtenente cristã que, em 2013, ocasionou inúmeros conflitos em um bairro da capital, alavancados pela Frente de Defensores do Islã (FPI).

A mesma organização, conhecida por sua violência, respalda atualmente a candidatura de Prabowo, que agrupa em sua coalizão vários partidos islâmicos e promete garantir “pureza religiosa” – fato que foi interpretado como como uma ameaça às minorias.

Para combater a pobreza agrária, ambos os adversários prometem criar terras cultiváveis; 4 milhões de hectares, no caso de Prabowo, e 9 milhões, no caso de Jokowi, o que equivale a 8 e 18 vezes o tamanho da ilha de Bali, respectivamente.

No entanto, a ausência de medidas contra o desmatamento na campanha eleitoral e promessas de reforma agrária como as anteriores geram o medo do próximo Executivo não dar prioridade às políticas ambientais, assim como fez Yudhoyono.

Desta forma, tendo dois caminhos opostos, os indonésios decidirão na próxima quarta-feira quem será o vencedor da terceira eleição presidencial por voto direto desde a reforma democrática iniciada em 1998, após a queda de Suharto. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.